sábado, 25 de dezembro de 2010

Conheça as mulheres que acompanharam Cristo

Elas protagonizaram passagens que definiram o cristianismo, estiveram com ele nas pregações e não o abandonaram no calvário. Saiba quem foram as representantes do sexo feminino que acompanharam Cristo em toda sua trajetória
João Loes
“Cristo na Casa de Maria e Marta”,
de Alessandro Allori: as irmãs de Lázaro representam diferentes
modelos de mulher na nascente comunidade cristã

Os homens dominam a história do cristianismo. A começar por Deus, o Pai, onipresente e onipotente, criador e não criadora, passando pelos 12 apóstolos, que não incluíam uma mulher sequer, e culminando com Jesus, Filho e não filha. Curiosamente, porém, são as mulheres que não só participaram, como protagonizaram boa parte dos momentos cruciais da vida de Cristo. Da concepção à crucificação, enquanto homens traíam ou fingiam não conhecer o Messias, elas não se acovardaram diante das dificuldades. Mas quem são essas mulheres e por que elas são importantes? E como, hoje, as cristãs batalham para encontrar mais espaço dentro da Igreja?

Com a leitura dos Evangelhos como relatos simbólicos aliada ao estudo histórico do tempo de Cristo, é possível resgatar o protagonismo de algumas mulheres na vida de Jesus. “Cada época lê os Evangelhos de uma maneira”, resume Stephen Binz, biblista formado pelo Pontifício Instituto Bíblico, em Roma, e autor do livro “Mulheres nos Evangelhos: Amigas e Discípulas de Jesus”, a ser publicado nos Estados Unidos em janeiro de 2011. “E as verdades e conclusões tiradas do texto derivam da vida e das prioridades de quem o lê.”

“A Noite Sagrada”,
de Carlo Maratta: Maria muitas vezes não compreendeu a
mensagem do filho. Mas tinha uma devoção radical por ele

A visão feminina do Novo Testamento sempre existiu, mas o estudo sistematizado com vistas às revisões do papel da mulher na vida e no legado de Jesus é mais recente. O que se convencionou chamar de teologia feminista nasceu com os movimentos pelos direitos das mulheres nos anos 60, quase dois mil anos depois da reunião dos textos que compõem a segunda parte da Bíblia. “Prevaleciam, e ainda prevalecem, em muitos lugares interpretações dos textos que justificavam a subjugação da mulher”, conta Yury Puello Orozco, teóloga feminista do departamento de Ciências da Religião pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Às perguntas que buscavam a justificação da existência do mal, por exemplo, convencionou-se afirmar que a culpa era da mulher, que, na figura de Eva, no Antigo Testamento, cedeu às tentações do diabo e comeu o fruto da árvore proibida. “Se as mulheres eram fracas e sugestionáveis como alguns dizem, por que foram elas as testemunhas de momentos-chave do cristianismo, como a morte e a ressurreição de Cristo?”, questiona Yury. “Os apóstolos, na hora do aperto, foram incrédulos e fugiram, enquanto as mulheres permaneceram ao pé da cruz”, lembra.

Uma das que continuaram lá, firme e forte, foi Maria de Nazaré, a mãe de Jesus, reconhecida como a figura feminina mais importante na vida de Cristo. Não só por estar ali, em um dos momentos de maior aflição do filho que era dela e de Deus, mas por toda sua história ao lado do Messias. “Ela não foi só mãe carnal, foi mãe moral e psicológica”, lembra frei Clodovis Boff, teólogo, filósofo e mariólogo com formação pela Universidade Católica de Leuven, na Bélgica. Segundo Boff, um dos documentos publicados ao final do Concílio Vaticano II (1962-65), o famoso encontro de bispos do mundo inteiro que soprou ventos de modernidade na Igreja, sintetiza bem a natureza excepcional da devoção de Maria. “Diz-se que ela foi uma mulher que peregrinou na penumbra da fé”, afirma o teólogo. Mesmo sem compreender tudo que seu filho dizia e fazia, ela acreditou na palavra de Deus e seguiu dando espaço para que Jesus passasse sua mensagem. “A proposta de Cristo era uma coisa misteriosa, chocou todo mundo e a ela também, mas ainda assim ela o acolheu”, explica.

“Verônica Segura a Mortalha Sagrada”,
de Simon Vouet: a desconhecida que virou
santa por ter enxugado o suor de Cristo

São muitos os momentos na vida de Nossa Senhora que mostram extrema confiança no projeto divino, mas alguns merecem destaque. Um deles é a anunciação, quando o anjo Gabriel conta a Maria, virgem e noiva de José, que ela conceberia um bebê mantendo-se casta e que esta criança, que deveria se chamar Jesus, reinaria para sempre como Filho do Altíssimo. Diante da grandeza do que foi dito, Maria, embora assustada, aceitou o anúncio como a vontade de Deus e se colocou à disposição do projeto. É difícil imaginar o peso que essa mulher aceitou carregar. Jovem, pobre e prometida em casamento, ela estava grávida em um mundo onde a mulher adúltera – e essa suspeita recaiu sobre ela – era condenada publicamente à morte por apedrejamento. “E ela não assume esse papel como uma testemunha passiva da vontade divina”, lembra Luiz Alexandre Solano Rossi, pós-doutor em teologia e em história antiga. “Maria vive a missão ativamente e trabalha para que ela dê certo.”

Para Rossi, a visita de Maria à prima, também grávida, por intercessão divina, Isabel, no sexto mês de sua gestação, é exemplo claro da disposição da mãe de Cristo em participar do projeto de Deus e não apenas acompanhá-lo como espectadora. “É um prenúncio do protagonismo que ela terá na vida do filho”, afirma. A visita também tem um papel simbólico que fará de Isabel outra mulher importante na vida de Jesus, embora não se saiba se eles se conheceram pessoalmente. Foi no encontro com Maria que Isabel confirmou o projeto de Deus à prima ao anunciá-la como bendita entre as mulheres, além de bendizer o fruto de seu ventre. Para alguns exegetas bíblicos, estudiosos que esmiúçam o que diz o livro sagrado católico, a visita tem forte valor simbólico. Isabel, idosa e estéril, mas grávida de João Batista, representaria o passado que abre caminho e dá as boas-vindas ao novo, que é Maria, jovem e grávida de Jesus. “Entre os tradicionais e partidários mais radicais do judaismo, há quem diga que o Messias, na realidade, seria João Batista e não Jesus, já que o vínculo com o passado judaico do primeiro é mais forte que o do segundo”, afirma Rafael Rodrigues da Silva, professor de teologia da PUC-SP.


“Maria Magdalena”,
de Giovanni Pietro Rizzoli: a preferida de Jesus, escolhida por
ele para anunciar a ressurreição, símbolo máximo do cristianismo

As dúvidas sobre o messianismo de Jesus o acompanharam sempre. Já adulto, durante suas peregrinações, Cristo teve de lidar inclusive com a desconfiança de homens de seu círculo mais íntimo. Com as mulheres que também o seguiam, porém, a situação era diferente. Do pouco que se sabe delas, fica claro que viviam a fé de forma plena. “Elas ajudavam a arcar com os custos do ministério de Jesus e a tocá-lo adiante sem questionamentos, o que mostra uma obediência saudável e importante naquele momento”, conta Binz, o biblista. O autor lembra ainda quão estranho devia ser, na época, ver um profeta circulando com um grupo de seguidores que incluía um número razoável de mulheres. Afinal, o gênero feminino, como os estrangeiros, os pobres e os doentes, vivia à margem da sociedade.

Mas era na margem que Jesus caminhava e foi lá que ele encontrou outra mulher que seria fundamental em sua vida: Maria de Magdala, também conhecida como Maria Madalena. Exorcizada por ele de sete demônios, ela passou a segui-lo e se tornou seu braço-direito no ministério. Jesus deu inúmeras demonstrações de confiança a Maria Madalena – boa parte registrada nos evangelhos canônicos e outra contada nos chamados apócrifos, escritos que datam quase em sua totalidade do século III, mas que não foram incluídos na “Bíblia”. Ela é chamada de apóstola dos apóstolos, por exemplo, e chega a despertar ciúmes nos homens que seguem Cristo. A mais poderosa das demonstrações de confiança do Messias em Madalena, e, por extensão, nas mulheres, foi o fato de tê-la escolhido para ser a primeira testemunha de sua ressurreição, o momento definidor da fé católica. Foi ela quem viu e anunciou aos apóstolos que Jesus havia aparecido a ela ressuscitado.

A predileção de Cristo por Maria Madalena é tamanha que ela semeou especulações de que ambos teriam se envolvido romanticamente. A tese foi explorada, virada e revirada nos últimos dois mil anos e certamente continuará rendendo histórias, como a contada por Dan Brown no best seller “O Código da Vinci”, de 2003. Em certa medida, a recusa em aceitar que não houve romance entre os dois mostra que a natureza da mensagem de amor incondicional não necessariamente romântico de Jesus continua sendo revolucionária e de difícil compreensão. “A figura de Maria Madalena traz uma crítica aos códigos de pureza e mostra, na prática, o quanto a mensagem de amor de Jesus é para todos”, explica o padre Marcio Fabri dos Anjos, doutor em teologia pela Universidade Gregoriana de Roma.

E cada um vive a devoção à sua maneira. A história de outras duas mulheres próximas de Jesus na “Bíblia” é exemplo disso. Marta e Maria, irmãs de Lázaro, têm dois encontros importantes com o Messias. E o primeiro é representativo das diferentes naturezas que a fé pode ter. Nele, as mulheres recebem Jesus, que circulava pela região de Betânia, na casa onde moravam. Ao ver o Messias, Maria abandonou os afazeres domésticos e se sentou aos pés de Cristo para ouvi-lo. Na tradição de então, sentar aos pés de alguém é postura clássica do aluno diante do mestre. Já Marta repreendeu a irmã e Jesus por tê-la deixado sozinha com as obrigações do lar. “Há quem coloque as duas em oposição – uma certa e outra errada”, explica o teólogo Rossi. “Na verdade as atitudes se complementam.” Maria representaria a porção contemplativa da fé, enquanto Marta a prática.

Nem todos, porém, concordam com esse entendimento do episódio. Os defensores do protagonismo de Maria sobre Marta argumentam, por exemplo, que, ao se sentar aos pés de Jesus, ela questiona a função feminina, abandonando as regras que a amarravam aos afazeres domésticos. A outra, alheia à boa nova, continuaria muito ligada às tradições com as quais Jesus pretendia quebrar. Ainda assim, dizem os ardorosos defensores de Marta, sobraria uma função importante para ela. Sendo dela a responsabilidade sobre o lar – e o lar, na igreja primitiva, era onde a fé cristã era praticada clandestinamente –, ela surgiria como a grande autoridade do espaço de fé. “Em última instância, essas mulheres são importantes por que mostram que não existe só um modelo de mulher na nascente comunidade cristã”, lembra Rossi. “Elas têm liberdade para escolher o que querem ser.”

“A Ressurreição de Lázaro”,
de Andrea Vaccaro: Maria representa a contemplação
e Marta a prática cristã

Foi esse espírito que fez engrossar a fileira de mulheres conhecidas e desconhecidas que acompanharam Jesus do início de sua peregrinação à crucificação. Os evangelhos de Marcos, Mateus e Lucas são explícitos quanto à numerosa presença feminina na paixão e ao pé da cruz. A importância delas, aliada ao fato de que muitas não foram identificadas, alimentou uma verdadeira fábrica de lendas sobre o papel que elas tiveram nesses momentos definidores. Uma dessas narrativas conta a história de uma desconhecida que teria enxugado o suor do rosto de Cristo com um pedaço de tecido no caminho do Calvário. O pano teria ficado marcado com as feições de Jesus, antecipando o que aconteceria com o manto mortuário, reconhecido atualmente como Santo Sudário, a principal relíquia católica. Já a tal mulher desconhecida entrou para a história como Santa Verônica, nome atribuído a ela por significar “imagem verdadeira”.

Era de se esperar que o Novo Testamento – cujos principais textos foram redigidos por quatro homens nascidos e criados em uma cultura eminentemente patriarcal – pouco dissesse sobre as personagens que foram decisivas na trajetória de Cristo. Pudera, na dura descrição de Cícero (106 a.C. - 43 a.C.), filósofo e cronista do tempo de Jesus, as mulheres estavam à frente apenas dos animais na estrutura social. Mas, contrariando a lógica de então, os relatos de Mateus, Marcos, Lucas e João, compilados entre os anos 30 d.C. e 80 d.C., dão enorme importância à presença feminina. Especula-se que a proximidade temporal da influência de Jesus – que não fazia distinção entre homens, mulheres, ricos ou pobres –, associada à expectativa real de que o Messias retornaria em breve à terra para julgar os vivos e os mortos, povoasse o imaginário dos redatores dos evangelhos.

Com o passar do tempo, porém, o distanciamento das fontes primárias e a institucionalização da Igreja, o que se viu foi o contínuo afastar da presença feminina da vida e do legado cristão, de modo a espelhar a cultura patriarcal de onde ela veio. Um abandono lento, mas persistente do radicalismo inclusivo pregado por Jesus. “A organização e a hierarquização acabaram com o pluralismo das primeiras comunidades cristãs”, argumenta Silva, da PUC.

Mas o legado feminino deixado pelas mulheres contemporâneas de Jesus tem valor inestimável. Serviu de referência para o corpo de fiéis que começou a se formar nos primórdios do cristianismo e nos últimos dois mil anos teve papel fundamental na criação da identidade católica. O que começou com figuras com Lídia de Tiatira e Tecla de Icônio foi terminar em Madre Teresa de Calcutá, passando por Santa Teresa D’Ávila e Santa Juana Inés de la Cruz. Embora as mulheres ainda não gozem do prestígio e reconhecimento que tinham nos tempos de Cristo, a força das histórias daquelas que viveram a fé de forma plena, por meio de atos e palavras, deixou sua marca e continua estimulando mudanças estruturais. “Em pleno século XXI, temos uma igreja que, no que diz respeito às mulheres, ainda está na Idade Média”, protesta a teóloga feminista Yury Orozco. Vale ressaltar que os protestantes estão muito mais evoluídos neste quesito, com bispas ordenadas, inclusive. Que a luta pelo reconhecimento feminino, que já tem dois mil anos, não precise continuar por mais dois mil anos. Mas, se for esse o caso, não há nenhum sinal de que as mulheres vão esmorecer. E isso é ótimo.

Era de se esperar que o Novo Testamento – cujos principais textos foram redigidos por quatro homens nascidos e criados em uma cultura eminentemente patriarcal – pouco dissesse sobre as personagens que foram decisivas na trajetória de Cristo. Pudera, na dura descrição de Cícero (106 a.C. - 43 a.C.), filósofo e cronista do tempo de Jesus, as mulheres estavam à frente apenas dos animais na estrutura social. Mas, contrariando a lógica de então, os relatos de Mateus, Marcos, Lucas e João, compilados entre os anos 30 d.C. e 80 d.C., dão enorme importância à presença feminina. Especula-se que a proximidade temporal da influência de Jesus – que não fazia distinção entre homens, mulheres, ricos ou pobres –, associada à expectativa real de que o Messias retornaria em breve à terra para julgar os vivos e os mortos, povoasse o imaginário dos redatores dos evangelhos.


“A Imaculada Conceição”,
de Bartolom Estebam Murillo: Maria é a figura
feminina mais importante do cristianismo

Com o passar do tempo, porém, o distanciamento das fontes primárias e a institucionalização da Igreja, o que se viu foi o contínuo afastar da presença feminina da vida e do legado cristão, de modo a espelhar a cultura patriarcal de onde ela veio. Um abandono lento, mas persistente do radicalismo inclusivo pregado por Jesus. “A organização e a hierarquização acabaram com o pluralismo das primeiras comunidades cristãs”, argumenta Silva, da PUC.

Mas o legado feminino deixado pelas mulheres contemporâneas de Jesus tem valor inestimável. Serviu de referência para o corpo de fiéis que começou a se formar nos primórdios do cristianismo e nos últimos dois mil anos teve papel fundamental na criação da identidade católica. O que começou com figuras com Lídia de Tiatira e Tecla de Icônio foi terminar em Madre Teresa de Calcutá, passando por Santa Teresa D’Ávila e Santa Juana Inés de la Cruz. Embora as mulheres ainda não gozem do prestígio e reconhecimento que tinham nos tempos de Cristo, a força das histórias daquelas que viveram a fé de forma plena, por meio de atos e palavras, deixou sua marca e continua estimulando mudanças estruturais. “Em pleno século XXI, temos uma igreja que, no que diz respeito às mulheres, ainda está na Idade Média”, protesta a teóloga feminista Yury Orozco. Vale ressaltar que os protestantes estão muito mais evoluídos neste quesito, com bispas ordenadas, inclusive. Que a luta pelo reconhecimento feminino, que já tem dois mil anos, não precise continuar por mais dois mil anos. Mas, se for esse o caso, não há nenhum sinal de que as mulheres vão esmorecer. E isso é ótimo.

“Festa de Casamento em Caná”,
autor desconhecido: foi a mãe de Jesus quem informou que
o vinho da festa havia acabado. E deu-se o primeiro milagre


sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Jesus também ensina você a ficar no azul e a ser investidor

Se vivesse hoje aqui, mesmo com as tentações do consumo, ele não seria mais um endividado


Investidor, ético, preocupado com o futuro e solidário. Jesus também é exemplo na vida financeira e para quem quer uma carreira de sucesso. Na verdade, ele é mais que isso. Cristo é um verdadeiro consultor. Conselhos que ele deu há quase dois mil são muito atuais para a administração do seu dinheiro e da sua carreira.

Se vivesse nesta época de descontrole nas finanças, Jesus iria se destacar por sua organização. Talvez ele tivesse cheque, cartão de crédito e carro como qualquer um de nós. A diferença é que todos os seus gastos seriam minimamente calculados.

Nada de compras a prazo. Mesmo sofrendo as mesmas "tentações do consumo" que qualquer mortal, Jesus só iria gastar o que tem. Segundo Paulo de Tarso, que é mestre em teologia e dono do site Finanças para a Vida (www.financasparaavida.com.br), Cristo não vê o dinheiro como algo ruim. É a forma de usá-lo que pode ser prejudicial.

"Jesus tinha algo especial. Ele era um verdadeiro líder. Se fosse empresário, por exemplo, teria incentivado seus discípulos a formarem empresas. Sua visão de gestão era muito apurada. Ele nos ensina a ter integridade nas finanças, a não se expor a riscos e a multiplicar o que ganhamos", afirma.

O casal Arnaldo e Débora de Souza, líderes do programa Crown (curso de finanças baseado nos ensinamentos bíblicos) acredita que Jesus tinha um espírito investidor. "Em suas falas na Bíblia, Cristo deixa claro que está ao lado de quem faz aplicações e é contra as atitudes das pessoas que se endividam, pagam juros e fazem gastos desenfreados", explica Arnaldo.

Para o filho de Deus, o dinheiro tem um grande valor: ser usado para ajudar as pessoas. "Ser rico não é problema. O dinheiro só não pode virar o senhor da vida de ninguém. Ao gastar ou ao poupar, ter um objetivo é importante. As famílias precisam estar unidas na vida financeira. O lema de um casal, por exemplo, deve ser uma só carne e um só orçamento", diz Débora.

Ele usa a Bíblia como manual financeiro
A vida de Thiago Silva Boy mudou completamente quando ele passou a usar os ensinamentos de Jesus para organizar suas finanças. Tudo começou há um ano, ao entrar para a Igreja Batista. No local, ele fez o curso de administração pessoal e aprendeu a usar a Bíblia como um manual financeiro. "Antes eu tinha dívidas no cartão de crédito, no cheque especial e até empréstimos. Não entendia nada sobre finanças. Depois de fazer um curso na igreja percebi que Deus nos ensina várias formas de lidar com o dinheiro. Então, depois dessa lição, eu resolvi mudar. Quitei todas as minhas dívidas e hoje sobra dinheiro para fazer aplicações. Passei a entender que Deus é proprietário da minha vida e que gastos são decisões espirituais. Jesus mudou a minha vida até da minha família. Meus pais também agora utilizam os mesmos ensinamentos para organizar as finanças da casa."

Cristo: um  sucesso de empreendedor
Empreendedorismo é algo que Jesus tinha de sobra. O seu negócio era divino, mas para que tivesse sucesso, Cristo encontrou alternativas para a expansão da sua visão. E qualquer profissional hoje pode tirar da vida de Jesus várias lições práticas para crescer no mercado, sendo patrão ou empregado.

Tanto na sua tarefa espiritual como na pele de um simples humano, a lição que Jesus dá é de um empreendedor humilde, no entanto bastante focado na sua missão. E, apesar de sua liderança nata, seu maior objetivo era formar novos líderes.

"Ele tem grande influencia na gestão por ser motivado e perseverante. Jesus também era muito ético. Valores e crenças são essenciais para uma organização", afirma o administrador Giovani Borgo Sardi.

Para o empresário Arnaldo de Souza, outra lição que Jesus ensina é compromisso. "Hoje, o setor empresarial afirma que é preciso burlar a tributação para sobreviver. Mas Jesus condena isso. Sonegar é roubar", diz.

Lições para o equilíbrio estar na sua vida
Jesus trabalhador. A Bíblia diz que Jesus era carpinteiro antes de assumir sua missão divina. No entanto, ele via o trabalho como uma dádiva. O salário, para ele, era uma recompensa. Não era um profissional medíocre. Se fosse funcionário de uma empresa, por exemplo, ele estaria sempre disposto a crescer. Textos para te motivar: João 5.17, Colossenses 3.23-24, Mateus 20.6. Das 50 parábolas na Bíblia, 40 falam sobre o ambiente de trabalho.

Jesus: o planejador e o investidor. Jesus tinha preocupação com as finanças. Na Bíblia, existem 2.350 versículos que dão lição financeira. Ele ensina as pessoas a planejarem seus gastos, incentiva as pessoas a pouparem, a investirem o seu dinheiro, como na Parábola dos Talentos (Mateus 25.14-28). A história serve para mostrar que as pessoas que não poupam correm risco de perderem o pouco que tem. Leia também: Romanos 13.8, Thiago 4.13-15, Provérbios 3.27-28.

Jesus Empreendedor de sucesso. Jesus era totalmente a favor dos negócios e do lucro. Para ele,
a atuação empresarial existe para dignificar o homem e seus semelhantes. Ele era um grande empreendedor. Seu negócio era investir em vidas. Aprenda com ele a fazer uma administração de sucesso: João 15:1-2, 2 Coríntios 12:9, Filipenses 4:13, Mateus 7.7-28.

Jesus e as riquezas. Para ele, a riqueza faz mal quando a pessoa ama mais o dinheiro do que a vida e as pessoas. Mateus 6.19-24.

Jesus e os impostos. O homem pode até considerar a cobrança de impostos abusivas, mas Jesus aconselha a pessoa a pagar tudo que é cobrado. Para Jesus, quem não paga impostos, tanto o consumidor quanto um empresário, está cometendo roubo. Mateus 17.24-27 e Mateus 22.15-22.

Economia solidária
Análise
Giovani Borgo Sardi Administrador, professor do curso de Administração da Faesa e católico

Com Jesus podemos aprender que gerar riqueza é essencial para o sustento da população. Ele nos incentiva a guardar dinheiro, a poupar e a investir com o objetivo: de ajudar alguém. É claro que também podemos atender aos nossos desejos, mas o importante é ter uma meta de vida. No caso das empresas, a preocupação deve ser o cuidado com a natureza e com o bem-estar da comunidade. E na Bíblia é possível encontrar ensinamentos que nos levam a uma economia solidária, pensando no planeta. Os princípios de Jesus nos ensinam disciplina na vida pessoal e na empresarial. Independente da fé, dá para tirar boas lições de vida.



Mikaella Campos
A Gazeta

domingo, 12 de dezembro de 2010

Moisés? O Mar Vermelho pode ter sido dividido pelo vento

A famosa passagem da Bíblia onde Moisés divide o Mar Vermelho pode ter sido real, segundo simulações feitas em computadores.

A história do Livro do Êxodo diz que os judeus estavam fugindo do Egito, liderados por Moisés, e com o exército do Faraó em seu encalço. Moisés ergue seu cajado e divide o Mar Vermelho, para que os judeus pudessem passar pelo meio das águas. Quando o exército do faraó tenta perseguí-los, a água do mar cai sobre os soldados, fazendo com que os judeus ficassem a salvo.

Agora simulações feitas por cientistas americanos mostram que uma espécie de ponte poderia ter sido aberta em um determinado local do Mar Vermelho, ajudando os judeus a atravessarem as águas em segurança.

As pesquisas mostram que um vento leste forte poderia ter empurrado a água para um local onde um rio desaguava em uma lagoa. Com a água sendo empurrada para dois lados (para o natural e pelo vento leste) uma ponte seria aberta e pessoas poderiam atravessar em segurança.

Assim que o vento parasse, a água voltaria ao seu lugar original.

Segundo um dos pesquisadores responsáveis pelo estudo, Carl Drews, do Centro Nacional de Pesquisa Atmosférica dos EUA, a simulação bate com a situação apresentada pelo Livro do Êxodo – desde que um vento leste forte tenha soprado durante algum tempo.

Outros cientistas já tentaram explicar esse milagre de Moisés. Outra
hipótese levantada é de que um tsunami tenha feito as águas se retraírem e voltarem rapidamente, mas nada foi comprovado. [BBC]

Pessoas religiosas são mais felizes – entenda porque

Já faz um tempo que os cientistas sabem que as pessoas religiosas são mais satisfeitas com suas vidas do que os não crentes. Agora, um novo estudo descobriu que não é o relacionamento com Deus que traz essa satisfação, mas sim os laços mais estreitos com as pessoas.

Segundo os pesquisadores, a satisfação com a vida é quase inteiramente sobre o aspecto social da religião, ao invés do aspecto espiritual e teológico. As pessoas estão mais satisfeitas com suas vidas quando vão à igreja porque constroem uma rede social dentro de sua congregação.

Os resultados se aplicam aos católicos, protestantes e evangélicos. O número de judeus, mórmons, muçulmanos e pessoas de outras religiões entrevistadas foi pequeno demais para se tirar conclusões sobre essas populações.

Os estudos anteriores que descobriram uma ligação entre religião e satisfação com a vida não responderam a seguinte questão: a religião torna as pessoas felizes, ou pessoas felizes se tornam religiosas? E se a religião é a causa da satisfação com a vida, o que é responsável: a espiritualidade, as relações sociais, ou algum outro aspecto da religião?

Os pesquisadores abordaram essas duas questões no estudo recente. Em 2006, eles contataram uma amostra nacionalmente representativa de 3.108 adultos americanos por telefone, e pediram que eles respondessem perguntas sobre suas atividades religiosas, convicções e redes sociais. Em 2007, eles ligaram para o mesmo grupo e 1.915 deles responderam as mesmas perguntas novamente.

As pesquisas mostraram que, em todos os credos, as pessoas religiosas são mais satisfeitas do que as pessoas não-religiosas. Segundo os dados, cerca de 28% das pessoas que participam de cultos religiosos semanais estavam extremamente satisfeitas com as suas vidas, em comparação com 19,6% das pessoas que nunca frequentaram cultos.

Mas a satisfação não foi atribuída a fatores como a oração individual, a força da crença, ou sentimentos subjetivos de amor a Deus ou a sua presença. Em vez disso, a satisfação foi vinculada ao número de amigos que as pessoas tinham em sua congregação religiosa. Pessoas com mais de 10 amigos em sua congregação estavam quase duas vezes mais satisfeitas com a vida do que pessoas sem amigos em sua congregação.

O estudo sugere um nexo de causalidade entre a religião e a satisfação com a vida: pessoas que tinham começado a ir à igreja com mais frequência entre 2006 e 2007 tornaram-se mais felizes. Novamente, a felicidade era explicada totalmente por um aumento nas amizades feitas durante os cultos.

A conclusão dos pesquisadores é que o fato de encontrar um grupo de amigos íntimos em uma base regular, e participar de certas atividades que são significativas para todos, faz com que esse grupo partilhe certa identidade social, um sentimento de pertencer a uma comunidade de fé moral. Esse sentimento parece ser a chave para a relação entre ir à igreja e estar satisfeito com a sua vida.

Embora um maior número de amizades também tenha sido associado à satisfação com a vida, as amizades de igreja pareciam dar ainda mais satisfação. Uma pesquisa adicional também descobriu que a propensão religiosa para a caridade e o voluntariado se conecta com as amizades do meio religioso.

Teoricamente, estar em um grupo de amigos que não tenha a ver com a igreja, mas que se conheça há muito tempo e que se engaje em atividades significativas, compartilhando uma identidade social, também pode aumentar a satisfação com a vida. E na prática? Para responder a essa pergunta, os pesquisadores planejam realizar uma terceira rodada de pesquisas com o mesmo grupo de participantes em 2011, para recolher dados sobre esse tipo de amizade.[LiveScience]

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Aparição da Virgem Maria em 1859

O local é um destino popular para orações desde que a aparição foi registrada

O bispo da diocese católica de Green Bay, cidade no Estado de Wisconsin, disse que a Virgem Maria apareceu a uma freira, de origem belga em 1859. O bispo David Ricken anunciou sua descoberta ontem em uma missa no Santuário de Nossa Senhora da Ajuda em Champion. O local é um destino popular para orações desde que a aparição foi registrada pela irmã Adele Brise. A diocese disse que a declaração de Ricken dá ao santuário o mesmo status que outros locais conhecidos, como Lourdes, na França, Guadalupe, no México, e Fátima, em Portugal.

sábado, 4 de dezembro de 2010

Os 10 Santos Católicos mais populares do Brasil. Divergência com evangélicos


TODO SANTO AJUDA (?)
Alguns campeões de venda de imagem não entraram no ranking. São Jorge é usado na umbanda, por representar Ogum, e são Judas e santo Expeditoauxiliam nas causas impossíveis

O ranking foi baseado em critérios numéricos, mas santos muito festejados, como são Pedro e Nossa Senhora Aparecida, ganharam bônus!

10- SANT’ANA
FUNÇÃO Protetora dos avós
DIA 26 de julho
A avó de Jesus era estéril. Ela só concebeu Maria depois que seu marido, Joaquim, foi ao deserto fazer penitência e pedir a Deus que lhes desse um bebê. Sua imagem a retrata de pé, ao lado de Maria criança com um livro na mão. Além de ajudar outras mulheres estéreis, é protetora das famílias, donas de casa, professoras e costureiras
IGREJAS: 200
IMAGENS VENDIDAS: 207
CIDADES APADRINHADAS: 42

9- NOSSA SENHORA DAS GRAÇAS
FUNÇÃO Santa das bênçãos
DIA 27 de novembro
Também conhecida como Nossa Senhora da Medalha Milagrosa, a santa teria sido vista por uma noviça na França, em 1830. A religiosa recebeu então a missão de cunhar medalhinhas, que trariam graças a quem as usasse. Nos primeiros 50 anos, mais de 1 bilhão das jóias foram distribuídas
IGREJAS: 200
IMAGENS VENDIDAS: 800
CIDADES APADRINHADAS: 8

8- NOSSA SENHORA DE FÁTIMA
DIA 13 de maio
É uma das aparições mais famosas de Maria. Em 1917, ela apareceu a três pastorinhos em Fátima, Portugal, a quem fez três revelações. A primeira era a imagem do inferno; a segunda previa o início da 2a Guerra Mundial; e a terceira (revelada em maio de 2000) referia-se ao atentado sofrido pelo papa João Paulo II (em 13 de maio de 1981) e à perseguição comunista contra o catolicismo
IGREJAS: 300
IMAGENS VENDIDAS: 850
CIDADES APADRINHADAS: 19

7- SÃO PEDRO
FUNÇÃO Protetor das viúvas e dos pescadores
DIA 29 de junho
Foi o apóstolo responsável por dar continuidade à Igreja Romana, sendo o primeiro papa - por isso a basílica do Vaticano leva o seu nome. São Pedro seria o guardião das chaves do paraíso e, na crença popular, ele é quem faz chover, quando está lavando o céu. Seu dia encerra as comemorações da festa junina
IGREJAS: 260
IMAGENS VENDIDAS: 227
CIDADES APADRINHADAS: 24

6- SÃO JOÃO
FUNÇÃO Padroeiro da amizade
DIA 24 de junho
João era filho de Isabel, prima de Maria, a mãe de Jesus. Como Isabel já era idosa quando engravidou, Maria quis ajudar no parto e pediu à prima que acendesse uma fogueira quando chegasse a hora, dando origem às fogueiras nas festas juninas. João seria precursor de Cristo, anunciando a chegada do messias. Foi ele quem batizou Jesus no rio Jordão
IGREJAS: 370
IMAGENS VENDIDAS: 150
CIDADES APADRINHADAS: 45

5- SÃO JOSÉ
FUNÇÃO Padroeiro dos trabalhadores
DIA 19 de março
Descendente do rei Davi, José era um humilde carpinteiro que, mesmo não sendo pai biológico de Jesus, o teria criado como se fosse seu. A devoção aosanto chegou ao Brasil com os jesuítas e se intensificou com os imigrantes italianos, que têm o costume de produzir um doce, chamado zeppole, em sua homenagem
IGREJAS: 500
IMAGENS VENDIDAS: 300
CIDADES APADRINHADAS: 52

4- SÃO SEBASTIÃO
FUNÇÃO Padroeiro dos alfaiates
DIA 20 de janeiro
Sebastião foi um soldado romano benfeitor dos cristãos. Por isso, foi condenado à morte por flechadas, mas sobreviveu. Recuperado, ele enfrenta o imperador, é capturado e chicoteado até a morte. Além de ganhar a simpatia da comunidade gay, vende muitas imagens por representar, na umbanda, o orixá Oxóss
IGREJAS: 450
IMAGENS VENDIDAS: 680
CIDADES APADRINHADAS: 62

3- NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO
FUNÇÃO Padroeira de Portugal
DIA 8 de dezembro
Por ter sido concebida sem pecado (mácula), Maria ganhou o título de Imaculada Conceição. A festa em sua homenagem foi definida pela Igreja em 1854, pelo papa Pio IX. A santa foi uma das primeiras imagens a chegar ao Brasil e foi considerada, por algum tempo, a padroeira do país
IGREJAS: 600
IMAGENS VENDIDAS: 600
CIDADES APADRINHADAS: 61

2- SANTO ANTÔNIO DE PÁDUA
FUNÇÃO Padroeiro dos pobres
DIA 13 junho
De família rica, entrou para um convento de Lisboa e, depois, para uma ordem franciscana. Foi enviado para o Marrocos, onde ficou muito doente. Na volta à Europa, seu navio naufraga e Antônio é levado para Sicília, na Itália. Lá ele ganha fama de casamenteiro por ajudar moças pobres a pagar os dotes, obrigatórios para o matrimônio
IGREJAS: 550
IMAGENS VENDIDAS: 2000
CIDADES APADRINHADAS: 84

1- NOSSA SENHORA APARECIDA
DIA 12 de outubro
Maria é representada e nomeada de diferentes formas nos locais onde teria aparecido. São mais de 2 mil denominações aceitas pela Igreja. Nossa Senhora Aparecida é a mais popular no Brasil – onde é padroeira desde 1929. Sua imagem foi encontrada no rio Paraíba em 1717. O local virou foco de peregrinação e hoje abriga uma basílica, que recebe mais de 10 milhões de pessoas por ano. Já a Nossa Senhora de Nazaré, famosa em Belém do Pará, reúne cerca de 1 milhão de fieis na romaria do Círio de Nazaré
IGREJAS: 460
IMAGENS VENDIDAS: 2500
CIDADES APADRINHADAS: 15


* Número anual cedido pela fabricante Imagens Bahia
** Número aproximado

FONTES Centro de Estatísticas Religiosas e Investigações Sociais (Ceris); O Livro dos Santos – A História e as Orações dos 100 Santos Mais Populares doBrasil, de Carolina Chagas (Publifolha); cônego Antônio Aparecido Pereira, porta-voz da Arquidiocese de São Paulo



Católicos em guerra contra Ana Paula Valadão


Em um evento na Bahia, a cantora evangélica Ana Paula Valadão, do Ministério Diante do Trono, falou sobre a queda da Igreja Católica no Brasil. ela: “aonde a idolatria chegou, aonde os cultos aos deuses chegaram, aonde entrou toda influência da mariolatria em nosso Brasil, desde as primeiras missas efetuadas em solo brasileiro, aonde entram os primeiros escravos da África, trazendo seus deuses, trazendo o culto aos deuses falsos africanos … o Senhor fará soar novos tambores nessa Nação”.
Enquanto os tambores tocavam ela dizia: “Diz a Palavra (de Deus) que ao som dos tambores Deus destruirá o rei da Síria”. “É a ruína dos falsos deuses, é a ruína do povo idólatra”.
Em um dado momento ela disse:
“Eu profetizo, no nome do Senhor Jesus, a queda de escamas da idolatria nos olhos de homens, mulheres jovens velhos. A Igreja Católica Apostólica Romana no Brasil será invadida por uma onda de conversão, libertação e avivamento e quebrará toda a corrente de gerações. Haverá entre os padres, entre os seminaristas o espírito de ousadia para tomarem posição diante do Senhor Jesus e publicamente confessarão que só Ele é digno de toda a oração e adoração, culto, honra e glória”.
Por alguns minutos o estádio inteiro começa a gritar “Jesus, Jesus, Jesus”.
Tal declaração despertou a indignação de católicos em várias partes do Brasil, os quais estão se manifestando por meio da internet.
No microblog twitter, alguém escreveu:
“Deus me mostra Ana Paula Valadão de joelho em frente ao Santo Sacrário de uma Igreja Católica de BH (Belo Horizonte) e depois pregando na Canção Nova (emissora de TV da Igreja Católica).
Uma outra pessoa assim comentou em um blog católico:
“Salve Maria Imaculada!
Sirva de exemplo aos carismático para que jamais ousem a trazer em seus lábios qualquer canção protestante, a começar pelo barulho que se chamam de “músicas” dessa seita da Lagoinha, cujo líder é o lobo Saul Valadão, onde sua filha Ana Paula Valadão lidera um chamado “ministério” que profetiza blasfemias. Essa mulher arrasta multidões com suas músicas protestantóides e se aproxima de uma tal loucura, que é necessário estômago para conseguir ouvir uma porcaria dessa. Que a Santíssima Virgem esmague a cabeça de satanás, e justiça divina coloque nossos inimigos de joelhos para que se humilhem diante da grandeza de Deus e do esplendor da verdade católica”.
Oremos por Ana Paula Valadão e toda sua família, para que a mão poderosa no Nosso Deus continue estendida sobre eles. (Fonte: Portal Padom)

(...)

Imagens de escultura e figuras não são as únicas formas de idolatria (Cl 3.5), mas são uma forma muito comum e visível. Deus proibiu o uso de imagens de escultura e figuras para o culto:

"Então, o Senhor vos falou do meio do fogo; a voz das palavras ouvistes; porém, além da voz, não vistes aparência nenhuma… Guardai, pois, cuidadosamente, a vossa alma, pois aparência nenhuma vistes no dia em que o Senhor, vosso Deus, vos falou em Horebe, no meio do fogo; para que não vos corrompais e vos façais alguma imagem esculpida na forma de ídolo, semelhança de homem ou de mulher…" (Dt 4.12-18).

Porém, nosso coração, idólatra por natureza, rejeita a Palavra de Deus e busca imagens. A idolatria é a característica mais peculiar às religiões e povos que não não norteados pela Bíblia. Contudo, este é um perigo constante, até memo, para aqueles que são orientados pela Bíblia.

A Igreja Primitiva entendeu e obedeceu esta proibição, e não nos legou nenhuma descrição física de Jesus, muito menos uma imagem física. Mas, os apóstolos nos deixaram uma perfeita apresentação da Pessoa, Obra (especialmente a Obra Redentiva) e Ensino de Jesus, em Palavra Escrita.

Jesus ordenou a Santa Ceia, constituída dos elementos pão e vinho, significando seu sacrifício remidor; que juntamente com o Batismo são as únicas representações visíveis da Palavra, ordenadas para o culto. Observe-se também, que ambos substituem sacramentos com derramamento de sangue, do Antigo Testamento (Páscoa e Circuncisão). Mas, quando a Igreja se apostatou (abandonou a Palavra de Deus) adotou o Crucifixo – imagem da carne ensanguentada de Jesus. Entretanto, a Igreja foi ordenada a falar (pregar) do derramento do sangue de Cristo Jesus, para a salvação de pecadores; e até a mostrar isto no Batismo e Santa Ceia; porém nunca, em um Crucifixo.

Reconhecemos que há na Bíblia histórias extraordinárias para o Teatro e o Cinema; mas, isto não é da competência da Igreja. Compete à igreja anunciar o Evangelho em palavras (de modo escrito ou falado), e não por imagens. Assim, ela não cairá jamais em contradição com o Segundo Mandamento: "Não farás para ti imagens de escultura,…" (Dt 5.8-10).

O Crucifixo, uma imagem ilustrativa do sacrifício de Cristo, se transformou em um objeto de adoração. O Crucifixo "deu certo", ele é "um sucesso" é uma das mais importantes características e atrativos do culto católico romano. Não obstante, é uma abominação perante Deus. A hóstia "transubstanciou-se" e também tornou-se em objeto de adoração.

Existem formas grosseiras de idolatria, mas existem também formas sutís; e destas, é muito difícil alguém ser convencido. Geralmente, os cristãos que usam imagens de escultura não admitem que estejam praticando idolatria. A idolatria não se manifesta imediatamente de forma constante e generalizada. Ela tem um começo imperceptível que se repete e espalha.

A idolatria é tão severamente condenada porque ela produz a sensação de um contato direto com a divindade, ela satisfaz imediata e enganosamente. Assim, ela mantem as pessoas longe da Palavra de Deus. Distante da Palavra de Deus, o homem não pode conhecer a Deus. Ele só é capaz de conceber um ídolo em seu coração, construído pela revelação natural distorcida pelo pecado.

Para quantos católicos e protestantes o filme "A Paixão de Cristo" não tem se tornado uma forma de idolátrica de culto? Creio que todos aqueles que alimentam a expectativa e dizem estar recebendo através do filme as graças prometidas no Evangelho, e também aqueles que, assistindo o filme, estão confundindo emoções com operações do Espírito Santo, deveriam refletir seriamente sobre esta situação. Entre a idolatria grosseira e o culto verdadeiro existe uma delicada intersecção, e os que nela estão não conseguem perceber.

Se recusamos os Meios de Graça, ou se eles nos são recusados, tendemos a substituí-los por alguma coisa que, ou não nos satisfará plena e verdadeiramente, ou nos destruirá (como é o caso da idolatria). Para quantas pessoas o filme de Gibson não estará funcionando como um substituto ao Meio de Graça? Para muitos ele poderá exercer o efeito de um Crucifixo, um Super Crucifixo animado.

A presente geração de cristãos, inclusive de evangélicos, conhece a Jesus Cristo menos do que deveria; porque muitos não têm recebido a sólida, sistemática e expositiva Pregação das Escrituras. Onde faltam as "palavras de vida eterna" , as pessoas se tornam ávidas por imagens e se tornam presas fáceis da idolatria.

O Filme "A Paixão de Cristo" é um meio de expressão entre Mel Gibson, juntamente com seus atores, e os que assistem ao filme; e nunca passará disto. Portanto, ninguém deveria esperar do filme que ele seja um meio de comunicação entre Deus e o homem. Isto pode ser um passo rumo à idolatria. Mas, a Palavra de Deus lida e pregada, os sacramentos ordenados por Deus em Sua Palavra, e a oração, que é nossa obediente resposta à Palavra de Deus; estes sim, são os meios da graça salvadora.

Contudo, enquanto a Palavra lida e pregada estiver em baixa na Igreja, a fiel administração dos sacramentos e a pura oração (porque existe a oração impura como a oração vaidosa, egocêntrica, futil etc.), também estarão em baixa. Neste contexto a Igreja continuará buscando e promovendo meios diversos para suprir a sua necessidade de animação. E, de vez em quando, necessitará até, aproveitar uma "ajudinha" de Hollywood.

Jorge Barros (leia o texto completo no link: http://www.igrejareformada.ca/biblioteca/paixaodecristo.html (Cristãos e o Filme "A Paixão de Cristo")




sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

MPF entra com ação para que programa 'Brasil Urgente' se retrate de declarações preconceituosas contra ateus

SÃO PAULO - O Ministério Público Federal ingressou com ação civil pública para que o programa Brasil Urgente, da Rede Bandeirantes de Televisão, se retrate de declarações consideradas preconceituosas contra ateus. Segundo o MPF, no dia 27 de julho, por 50 minutos, o apresentador José Luiz Datena e o repórter Márcio Campos, durante reportagem sobre um crime, fizeram comentários preconceituosos sobre pessoas ateias.

Segundo o MPF, o apresentador e o repórter relacionaram os crimes a pessoas que não acreditam em Deus. "TV aberta é concessão pública e não pode ser usada para disseminar preconceito", diz o MPF.

O Ministério Público Federal apresentou pedido de liminar para que o programa seja obrigado a exibir quadro com retratação das declarações ofensivas às pessoas ateias e esclarecimentos à população sobre diversidade religiosa e da liberdade de consciência e de crença no Brasil. O MPF quer que o quadro tenha o dobro do tempo usado para exibição das mensagens ofensivas.

Na ação, o MPF relaciona as declarações:

"Esse é o garoto que foi fuzilado. Então, Márcio Campos (repórter), é inadmissível, você também que é muito católico, não é possível, isso é ausência de Deus, porque nada justifica um crime como esse, não Márcio?"

(Márcio) "É, a ausência de Deus causa o quê Datena? O individualismo, o egoísmo, a ganância... claro!

(Datena diz), tudo isso."

"Só pode ser coisa de gente que não tem Deus no coração, de gente que é aliada do capeta, só pode ser ser."

"Esses crimes só podem ter uma explicação: ausência de Deus no coração."

"Eu fiz a pergunta: você acredita em Deus? E tem 325 pessoas que não acreditam. Vocês que não acreditam, se quiserem assistir outro canal, não tem problema nenhum, não faço questão nenhuma que ateu assista meu programa, nenhuma...não precisa nem votar, de ateu não preciso no meu programa."

"... quem não acredita em Deus não precisa me assistir não gente, quem é ateu não precisa me assistir não. Mas, se eu fizer uma pesquisa aqui, se você acredita em Deus ou não, é capaz de aparecer gente que não acredita em Deus. Porque não é possível, cada caso que eu vejo aqui, é gente que não tem limite, é gente que já esqueceu que Deus existe, que Deus fez o mundo e coordena o mundo, é gente que acredita no inferno..."

"...porque o sujeito que é ateu, na minha modesta opinião, não tem limites, é por isso que a gente vê esses crimes aí."

"Agora, vocês que estão ao lado de Deus, como eu, podiam dar uma lavada nesses caras que não acreditam em Deus, ... para provar que o bem ainda é maioria....porque não é possível, que não acredita em Deus não tem limite. Ah Datena, mas tem pessoas que não acreditam em Deus e são sérias. Até tem, até tem, mas, eu costumo dizer que quem não acredita em Deus, não costuma respeitar os limites, porque se acham o próprio Deus."

"...deixa direto essa pesquisa aí, que eu quero ver como as pessoas que são crentes, que são tementes a Deus, são muito maiores do que não temem a Deus. Mas quero mostrar também que tem gente que não acredita em Deus. É por isso que o mundo está essa porcaria. Guerra, peste, fome e tudo mais, entendeu? São os caras do mau. Se bem que tem ateu que não é do mau, mas, é ..., o sujeito que não respeita os limites de Deus, é porque não sei , não respeita limite nenhum.

"Esse é um exemplo típico de quem não acredita em Deus. Matou o menino de dois anos de idade, tentou fuzilar três ou quatro pessoas. Mas matou com a maior tranqüilidade, quer dizer, não é um sujeito temente a Deus."

"... é provável que entre esses ateus (referindo-se ao resultado da pesquisa) exista gente boa que não acredita em Deus, que não é capaz de matar alguém, mas é provável que tenham bandidos votando até de dentro da cadeia."

" ... mesmo com tanta notícia de violência, com tanta notícia ruim, o brasileiro prova de uma forma definitiva, clara, que tem Deus no coração. Quem não tem, é quem comete esse tipo de crime, quem mata e enterra pessoas vivas, quem mata criancinha, quem estupra e violenta, quem bate em nossas mulheres."

" muitos bandidos devem estar votando do outro lado." (referindo-se aos votos dos ateus na pesquisa)

" ... porque eu vejo tanta barbaridade há tanto tempo, que eu acredito que a maior parte do produto dessa barbaridade, seja realmente a ausência de Deus no coração... mas tem gente que me ligou e disse assim: Datena, eu não acredito em Deus, nunca matei, nunca roubei, nunca fiz mal para ninguém. Tudo bem, eu até respeito essa posição, mas a maioria de quem mata, de quem estupra, de quem violenta, de quem comete crimes bárbaros, já esqueceu de Deus há muito tempo...."

" e isso que eu estou dizendo para o cara que não acredita em Deus que nunca matou, nunca roubou, nunca fez mal a ninguém, porque a maioria que faz isso que eu falei, realmente não acredita em Deus, tá pouco se lixando."

" a fronteira está indo cada vez mais distante. As pessoas não respeitam mais nada, os marginais, os bandidos, aqueles que não temem a Deus, estão cada vez mais ultrapassando essas fronteiras."

Leia a íntegra da ação em que Ministério Público Federal pede a retratação do programa Brasil Urgente
Autor da ação, o procurador Regional dos Direitos do Cidadão Jefferson Aparecido Dias, afirma que o apresentador emitiu declarações preconceituosas contra pessoas que não compartilham seu modo de pensar e a emissora "descumpriu a finalidade educativa e informativa, com respeito aos valores éticos e sociais da pessoa, prestou um desserviço para a comunicação social, uma vez que encoraja a atuação de grupos radicais de perseguição de minorias, podendo, inclusive, aumentar a intolerância e a violência contra os ateus".

"O apresentador e o repórter ironizaram, inferiorizaram, imputaram crimes, 'responsabilizaram' os ateus por todas as 'desgraças do mundo'", diz o procurador em nota. Ele considera que foi desrespeitada a proteção constitucional à liberdade de consciência e crença.

O Globo

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

'Alguns choravam', diz pastor que negociou rendição de traficantes ..

Evangélico que acompanhou líder do AfroReggae no Complexo do Alemão defende anistia como forma de resolver confrontos no Rio

Na véspera da invasão da polícia ao Complexo do Alemão, um grupo de cinco pessoas da ONG AfroReggae decidiu subir o conjunto de 14 favelas na Penha, zona norte do Rio de Janeiro, e tentar convencer os traficantes a se entregarem. Liderados pelo diretor-executivo da organização, José Junior, eles argumentaram que a polícia venceria um possível confronto e que inocentes seriam as maiores vítimas. Ao lado de Junior estava um dos coordenadores da área social da entidade, Rogério Menezes, respeitado por traficantes, viciados e detentos do sistema penitenciário do Estado.

Foto: Robson Fernandjes /Agência Estado

José Junior e o pastor Rogério Menezes (de azul) a caminho da favela da Grota, no Complexo do Alemão

Evangelizador da Assembleia de Deus, Rogério é chamado de pastor. Em meio à negociação com os criminosos, no sábado (27), José Junior recorria ao Twitter para mandar informações em tempo real. "Pastor Rogério é o cara que mais salvou vidas que eu conheço. Muitas, inclusive, na Vila Cruzeiro e no Complexo do Alemão. Homem de Deus", escreveu o líder do AfroReggae na ocasião.

Ex-viciado, pastor Rogério admite que já traficou drogas, pegou em armas e cometeu crimes. Foi preso. Sobreviveu a duas overdoses de cocaína, até receber um "sinal" e "ser salvo por Jesus”. Hoje, ele diz que sua vida pregressa o permite compreender o que passa pela cabeça de criminosos e apresentar argumentos para tirar muitos da marginalidade. “Já salvei uns 300 que estavam amarrados para morrer”, garante.

Sobre a ação de retomada do Complexo do Alemão pelo Estado, o pastor diz acreditar “que a intenção foi uma das melhores”. Segundo ele, “o governador tem feito um trabalho muito bom”. Contudo, o religioso defende que somente uma anistia aos traficantes será capaz de pôr fim à ameaça de guerra no Rio. “Proponho que essa decisão seja avaliada pelo governo, pelos parlamentares e pela Justiça.”


Pergunta: Às vésperas da polícia invadir a favela, no sábado (27), o senhor e o José Junior entraram no Complexo do Alemão para conversar com os traficantes. Na sua avaliação, esse gesto ajudou a evitar derramamento de sangue?

Rogério Menezes: Sim. Eu e o José Junior estávamos todo o tempo juntos. Ele virava para mim e falava “pô, Rogério, o que a gente pode fazer para ajudar?”. Eu respondia: “Junior, eu sei que é perigoso e arriscado, mas imagina se a polícia entrar? Vai morrer muita gente. Temos de ir lá”. Expliquei que o máximo que poderia acontecer era a gente ser tomado como refém. Falei: “Deus está nos mandando ir”.

O que o senhor pensava naquele momento?

Rogério Menezes: Se houvesse confronto, eles iriam enfrentar, como foi noticiado, 2.600 policiais civis, militares, homens do Exército e da Marinha. Sem contar os inocentes, os jornalistas. Imagina o derramamento de sangue que poderia existir... Eu só pensava nisso.

Como vocês chegaram até os traficantes?

Rogério Menezes: Entramos na favela e perguntamos onde eles estavam. Nos orientaram a chegar até a parte mais alta. Encontramos um grupo de cerca de 60 homens, os mais perigosos. Conversamos olho no olho.

E como foi a conversa?

Rogério Menezes: Eles vieram até a gente. Estavam cansados, sem forças até para falar. Nós argumentamos que não dava para eles encararem. E muitos diziam “pastor, me ajuda. Pelo amor de Deus. O que o senhor pode fazer por mim?” O José Junior respondeu que não havia nada que a gente pudesse fazer e que o melhor seria se renderem à polícia; que a única garantia que a gente podia dar era a de que ninguém seria assassinado se aceitasse a rendição.

E eles estavam inclinados a aceitar a proposta?

Rogério Menezes: Um dos chefões virou para mim e falou: “Pastor, o senhor me conhece. Sabe que a minha vida todinha eu tirei dentro da cadeia. O senhor quer que eu volte?” Respondi: “Rapaz, é melhor você se entregar do que ser morto. Você tem uma vida, tem família. Pensa muito bem no que você vai fazer.”

E qual foi a reação?

Rogério Menezes: Muitos deles estavam desesperados, amedrontados. Alguns tremiam, estavam com os olhos arregalados. Outros olhavam para a gente como se fôssemos uma saída, um porto seguro. E a gente foi tentando acalmá-los. Mas eles diziam que era complicado se entregar. Em determinadas facções, se entregar é complicado. Eu sei disso. Hoje sou pastor, mas já fui do crime. Entendo a posição deles. Mas é aquele negócio, para o homem é impossível, mas para Deus tudo é possível.

Quer dizer que alguns queriam se render, mas tinham medo de ser assassinados na cadeia por retaliação da facção criminosa a que pertencem?

Rogério Menezes: É por aí. Cada caso é um caso. Depois dessa conversa que tivemos com eles, 37 se entregaram. Um se apresentou na delegacia com a mãe, a imprensa acompanhou. É o Mister M. Teve um pai que foi entregar o filho por acreditar que isso era melhor do que vê-lo morto pelo Bope. Acredito que eles não viam saída. Eu e o José Junior os motivamos a não irem para o confronto. Ninguém imaginava que o Alemão poderia ser ocupado da forma como foi. O maior mérito foi de Deus. Mas há também o mérito do AfroReggae, do José Junior, que foi muito corajoso.

Qual foi o diálogo com os traficantes que mais marcou o senhor?

Rogério Menezes: Vi homens de alta periculosidade me chamarem no canto e se abrirem para mim e para o José Junior. Teve gente que chorou. Não de medo. Chorou porque não queria o confronto, porque pensava na família. Foi o momento que mais me compadeceu. Eu ficaria o tempo todo ao lado daquelas pessoas, ainda que a polícia entrasse.

Nesse grupo havia chefes do tráfico?

Rogério Menezes: Positivo. Mas não vou falar disso em detalhes. Meu trabalho é religioso e eles confiam em mim. Quero apenas afirmar que eles não queriam guerra.

Quem falou mais, os senhores ou os traficantes?

Rogério Menezes: Eles ficaram mais tempo calados. Queriam ouvir a gente, queriam uma luz. Eles não estavam conversando com traficantes, mas com pessoas que simbolizavam a paz, a vida. Tem pessoas ali que me conhecem desde 1993, quando comecei a pregar. Muitos eu vi ir para a cadeia, sair da cadeia, visitei na favela. Havia homens com armas nas mãos, mas os que conversavam com a gente não estavam armados. Em momento algum eles diziam que iriam meter bala ou que optariam pelo confronto. Isso eu não vi.

O senhor diz que muitos traficantes não querem se render porque temem retaliações de colegas de facção dentro da cadeia; outros que já ficaram muito tempo presos e não aceitam voltar. A polícia afirma que vai permanecer na favela até realizar as prisões e recuperar as armas. O senhor defende alguma proposta para que não aconteçam novos conflitos?

Rogério Menezes: Sou a favor da anistia. Converso muito com traficantes e com viciados, visito muita boca de fumo. Eu evangelizo muito. Faço um trabalho de Deus, um trabalho do bem, espiritual. Já tirei muitos dessa vida e encaminhei para um emprego. E já vi caso também de pessoas que largaram o crime, se mudaram para outro estado, mas não conseguiram emprego porque devem à Justiça. Tiveram de voltar e retornar para o crime, tinham família. Mas eles me diziam “pastor, o senhor viu que tentei. Voltei para o tráfico, mas não bebo, não me drogo mais, nem a baile funk eu vou. Vai acabar meu plantão na boca e vou para casa ficar com meus filhos”.

O senhor não acha difícil propor para a sociedade que essas pessoas sejam anistiadas sem pagar pelos crimes que cometeram?

Rogério Menezes: É muito difícil responder sobre isso. Como religioso, acho que o culpado disso tudo são as forças espirituais do mal. Vou dar um testemunho da minha vida. Eu trabalhava, ganhava bem, três salários mínimos. Não era de uma vida errada. Mas em um determinado momento me senti sem chão. Tudo começou quando perdi meu pai. Minha mãe arrumou outro homem logo em seguida e eu não aceitei. Ela então me expulsou de casa. Eu tinha 16 anos. Bateu uma depressão tão grande, que perdi meu emprego, não conseguia trabalhar. Era morador da Baixada Fluminense, morava numa comunidade carente, conhecia bandido, conhecia traficante, mas eu era trabalhador. Nem todo mundo que mora dentro de uma comunidade é bandido. Minha família me deu estudo, o melhor que pôde dar. Mas eu caí na vida do crime, me entreguei à bebida, às drogas, fui preso. Houve momentos em que me vi sentado, chorando, querendo sair dessa. Eu despertei, procurei uma casa de recuperação. Tive apoio.

Apesar da visão religiosa do senhor, a anistia não é uma proposta polêmica?

Rogério Menezes: Cada caso é um caso. Proponho que essa decisão seja avaliada pelo governo, pelos parlamentares, pela Justiça. Caso a caso, insisto. Mas, particularmente, eu acredito que num universo com 100% de criminosos, se você oferecer uma oportunidade pelo menos 40% aceitam largar essa vida. É preciso considerar que muitos temem por suas famílias. Se forem presos, quem vai sustentar suas mulheres, seus filhos? Tem que haver um projeto social também.

Muitos bandidos fugiram e a polícia diz que vai capturá-los. O senhor acredita que esses traficantes vão voltar para o Complexo do Alemão futuramente? Ainda pode haver enfrentamento?

Rogério Menezes: Acredito que muitos homens que estavam ali no meio, inclusive os que fugiram, não têm antecedentes criminais. Às vezes até segura uma arma, mas é só um viciado. A polícia tem feito seu trabalho. E cabe à polícia e ao governo continuarem a fazer o seu trabalho. Contudo, também acredito que aquilo ali foi a mão de Deus a fim de despertar esses jovens. Acredito que muitos vão analisar e ver que não vale a pena se envolver com o crime. É a resposta que posso dar para essa pergunta.


O senhor está certo da recuperação dessas pessoas?

Rogério Menezes: Vou dar um exemplo. Trabalha com a gente lá no AfroReggae o Gaúcho. Durante muitos anos ele foi o chefe do Alemão, era um dos mais temidos na área. Ele tirou 28 anos de cadeia e hoje está aí, fora do crime, trabalhando com carteira assinada. Isso é a prova de que enquanto há vida, há esperança. O Bem-te-vi, aquele que morreu na Rocinha, ele vivia me dizendo que queria sair do crime. Eu ia para lá pregar umas sete da noite e ele não me deixava ir embora antes das três, quatro horas da manhã. Ele tinha o prazer de estar do meu lado. Muitas vezes o vi chorar. Ele me dizia “pastor, me ajuda. Quero sair dessa vida, mas não tenho forças. A sociedade me marginaliza, não acredita em mim”. Eu dizia, “rapaz, o mais importante é Deus estar olhando para você. Deus tem um plano para sua vida. Você não pode se entregar à criminalidade”.

Por que evangélicos são tão respeitados pelos criminosos?

Rogério Menezes: No sábado, na hora em que a polícia se posicionou para invadir o Complexo do Alemão, tinha um pastor na entrada da favela de terno e com a Bíblia na mão. Estava ele e a mulher dele. Aliás, havia mais de um, eram muitos. Eles ficaram entre os militares da polícia, do Exército e da Marinha, e os jovens. E eles procuravam esses jovens e diziam para que saíssem dessa vida. Ofereciam apoio: “quer se entregar comigo?”, perguntavam. No momento mais difícil, havendo risco de vida, eles estavam ali. E tem os testemunhos daqueles que saíram do crime e hoje estão aí, vivendo com dignidade. Isso mostra para eles que é possível.

Fonte: IG

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

‘Jesus histórico’ retrata Cristo mais humano, mas não ameaça fé

Anúncio do Reino de Deus, judaísmo e humildade marcam Nazareno.Evangelhos mesclam fatos e interpretações feitas por grupos cristãos.

É um bocado irônico que o personagem mais influente da história humana também seja um dos mais misteriosos. Jesus de Nazaré não tem data de nascimento ou morte registrada com segurança (embora seja possível estimá-las com margem de erro de dois ou três anos); não deixou nada escrito de próprio punho (há até quem argumente que ele provavelmente era analfabeto); não restou um único artefato do qual se possa dizer com certeza que pertenceu a ele.

Os relatos de seus seguidores, escritos entre duas e seis décadas após a morte na cruz, falam com riqueza de detalhes de um período curtíssimo de sua vida adulta, elencando seus atos e ensinamentos, mas nos deixam no escuro sobre a maior parte de sua infância e adolescência, suas angústias pessoais e seu relacionamento com amigos e familiares.

A situação pode soar desesperadora ao extremo para um historiador que, sem recorrer à fé cristã, queira reconstruir a vida e a mensagem desse judeu singular. Mas a situação é menos complicada do que parece. Por um lado, é preciso reconhecer que os Evangelhos, principais narrativas sobre Jesus na Bíblia cristã, não são livros históricos no sentido moderno do termo. “Os textos dos Evangelhos, todos eles, são uma combinação de elementos históricos e interpretações feitas posteriormente no âmbito das comunidades cristãs”, lembra o padre Léo Zeno Konzen, coordenador do curso de teologia da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões (RS).


Trocando em miúdos: os evangelistas (conhecidos entre nós pelos títulos tradicionais de Mateus, Marcos, Lucas e João) estavam tão preocupados em relatar o que tinha acontecido com Jesus e os apóstolos 50 anos antes quanto em tornar esses fatos relevantes para seu público, formado por cristãos nascidos depois que seu Mestre morrera na cruz. A boa notícia, porém, é que a leitura crítica e cuidadosa dessas narrativas é capaz de resgatar grande parte da vida terrena de Jesus.

O retrato que emerge desse esforço é, em certos aspectos, familiar para qualquer cristão, ao mesmo tempo em que humaniza o Nazareno. O chamado Jesus histórico é uma figura humilde, que põe sua mensagem – o anúncio da chegada do Reino de Deus – acima de qualquer preocupação com sua própria importância. Não se comporta como uma entidade superpoderosa ou onisciente. E coloca em primeiro lugar a história e o destino do povo de Israel, ao qual pertence. É um Jesus que pode ajudar os cristãos a repensarem a origem de sua própria fé – mas difícilmente é uma ameaça a ela, a menos que se acredite que todo versículo dos Evangelhos é verdade literal, como se fosse um filme do que aconteceu no ano 30 d.C.

HOMEM INVISÍVEL

Volta e meia ressurge a esperança de que os Evangelhos não serão mais a principal (ou mesmo a única) fonte sobre o Jesus histórico. Há quem coloque suas fichas em achados arqueológicos, como inscrições, túmulos e textos antigos. Dois exemplos recentes desse tipo de pesquisa, porém, não tiveram um resultado dos mais gloriosos.


Suposto ‘túmulo de Jesus’: Idéia nunca foi comprovada (Foto: ‘New York Times’)

Em 2002, foi a vez do chamado Ossuário de Tiago, uma caixa de pedra feita originalmente para conter o esqueleto de um homem que morreu em Jerusalém no século 1. No artefato havia uma inscrição em aramaico (língua aparentada ao hebraico que era a mais falada entre os judeus do tempo de Cristo), com os dizeres: “Tiago, filho de José, irmão de Jesus”. O ossuário, afirmavam alguns especialistas, teria pertencido a Tiago, irmão ou primo de Jesus que liderou a igreja cristã de Jerusalém até o ano 62 d.C. Mas análises mais detalhadas comprovaram que o pedaço crucial da inscrição (“irmão de Jesus”) foi adicionado por um falsificador do século 21.

Um bafafá parecido cercou, em 2006, novas análises de outros ossuários de Jerusalém, originalmente desenterrados nos anos 1980. Num mesmo jazigo familiar estavam enterrados “Jesus, filho de José”, Maria (a mãe dele?), Mariamne (supostamente, Maria Madalena) e outras pessoas cujos nomes lembram os de personagens do Novo Testamento. Um documentário produzido por James Cameron (ele mesmo, o criador de “Titanic”) defendeu que os ossuários eram a prova de que Jesus tinha se casado com Maria Madalena. Os defensores da tese argumentam que seria muito improvável a ocorrência conjunta desses nomes na Jerusalém do século 1 d.C. sem que houvesse uma ligação com Jesus de Nazaré. Nenhum estudioso sério do Jesus histórico, contudo, dispôs-se a comprar a idéia – calcula-se que, só na Cidade Santa, teriam vivido mais de mil “Jesus, filhos de Josés” nessa época.

Esses fracassos talvez tenham uma explicação muito simples: a pessoa de Jesus pode ser “invisível” para a arqueologia. “E não só ele como quase toda a primeira e a segunda geração de cristãos. São pessoas periféricas, gente muito simples, de origem rural”, afirma André Leonardo Chevitarese, historiador da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Romanos e judeus de classe alta construíam palácios e tinham selos (carimbos) pessoais feitos com metal ou pedra preciosos; carpinteiros e pescadores da Galiléia (a terra natal de Jesus, no norte de Israel), por outro lado, podiam passar a vida inteira usando apenas materiais perecíveis. Chevitarese, aliás, é cético até em relação à idéia de um enterro formal para Jesus.

“Em todo o mundo romano, o costume era abandonar o cadáver na cruz, para ser comido por abutres ou cães”, lembra o historiador da UFRJ. Ele também diz ser suspeita a figura de José de Arimatéia, judeu rico e simpatizante secreto de Jesus que teria obtido seu corpo e organizado seu sepultamento, segundo os Evangelhos.

“Camponeses como os seguidores de Jesus não teriam como se dirigir a Pilatos para exigir o corpo. Assim, os evangelistas enfrentam o problema de explicar o sepultamento de Jesus e usam a figura de José de Arimatéia, que praticamente cai de pára-quedas na narrativa”, diz. Por outro lado, há pelo menos um registro de crucificado judeu que teve um sepultamento digno – Yehohanan (João), filho de Hagakol, cujo ossuário foi descoberto por arqueólogos israelenses em 1968. O osso do calcanhar de Yehohanan ainda continha o cravo usado para pregá-lo na cruz.

Fora algum tremendo golpe de sorte, o máximo que a arqueologia pode fazer é iluminar a vida cotidiana no tempo de Jesus (indicando em que tipo de casa ele vivia ou que modelo de taça ele teria usado para beber vinho com seus discípulos) ou como era a religião judaica naquela época. Esse provavelmente é o caso de um misterioso texto do século 1 a.C., pintado numa pedra e analisado por Israel Knohl, da Universidade Hebraica de Jerusalém. Em julho passado, Knohl apresentou sua interpretação do texto (o qual não está inteiramente legível e, por isso, tem de ser reconstruído hipoteticamente): ele mencionaria a morte e ressurreição de um Messias décadas antes do nascimento de Jesus. Ainda que a interpretação esteja correta, é difícil ver como ela mudaria nossa compreensão sobre as origens do cristianismo: afinal, um dos grandes argumentos dos seguidores de Jesus é justamente que seu retorno dos mortos já tinha sido previsto nas profecias judaicas.

O MEU, O SEU, O NOSSO JESUS

Se a invisibilidade arqueológica não ajuda, a imaginação e as preocupações modernas também atrapalham um bocado. No esforço de tornar o Jesus histórico relevante para a nossa época, ou como forma de polemizar com as atuais religiões cristãs, pesquisadores como o historiador irlandês John Dominic Crossan defendem que Cristo não se preocupava com a vida eterna ou o Juízo Final, mas pregava uma ética totalmente centrada no aqui e no agora, influenciada pela cultura grega. Outros enfatizam seu lado de revolucionário político, ou mesmo o retratam como uma espécie de mago itinerante, cujos milagres não passavam de truques.

“Acho que isso equivale a esvaziar Jesus”, avalia Chevitarese. “Não se pode tirá-lo do seu contexto judaico nem eliminar seu lado apocalíptico e escatológico [o de um profeta que espera o final dos tempos e a consumação da história humana]”, diz o historiador da UFRJ. Isso não quer dizer, por outro lado, que a pregação de Jesus fosse completamente isenta de idéias sobre a sociedade e a política. “A própria escatologia judaica também tem um substrato político”, lembra Luiz Felipe Ribeiro, professor da pós-graduação em história do cristianismo antigo da Universidade de Brasília (UnB). Ele cita um exemplo cristão, o livro do Apocalipse, que pode ser lido tanto como uma previsão do fim do mundo quanto um ataque contra a opressão romana que afetava os cristãos.

Para John P. Meier, professor da Universidade Notre Dame (EUA) e autor da monumental série de livros “Um Judeu Marginal” (ainda não concluída) sobre o Jesus histórico, o pregador de Nazaré resume e mistura o espiritual, o social e o político na frase-chave de seu anúncio profético: o “Reino de Deus”. Essa é a tradução mais comum em português do grego hé basilêia tou Theou, cujo sentido provavelmente está mais para “o Reinado de Deus” – a idéia de que Deus estava prestes a intervir dramaticamente no mundo, resgatando seu povo de Israel, instaurando seu domínio de justiça e paz e incluindo até os povos pagãos entre seus escolhidos nesse Universo transformado.

“Isso explica por que Jesus parece relativamente despreocupado em relação a problemas sociais e políticos específicos. Ele não estava pregando a reforma do mundo; estava pregando o fim do mundo”, escreve Meier. No entanto, em vez de se concentrar nos terríveis tormentos que aguardariam os pecadores que não se arrependessem, o profeta da Galiléia ressaltava que o Reinado de Deus era um poder misericordioso, aberto a todos os que o recebessem.

Não é à toa que algumas autoridades judaicas, ou o grupo dos fariseus (algo como “separados”, em hebraico) ficavam escandalizados com o lado festivo da vida de Jesus e seus discípulos. Afinal, eles não hesitavam em comer e beber com cobradores de impostos, prostitutas e outros “pecadores notórios” da sociedade israelita, como sinal da proximidade e da inclusão do Reino.

“Proximidade”, aliás, talvez não seja a palavra exata: ao mesmo tempo em que Jesus via o Reinado de Deus como uma promessa a se realizar no futuro próximo, também insinuava que esse Reino já estava presente no ministério do próprio Cristo, diz Meier. “As curas e os exorcismos realizados por Jesus não seriam, portanto, meros atos isolados de bondade e compaixão: estariam mais para demonstrações dramáticas de que o Reino de Deus já estava chegando a Israel”, afirma o pesquisador. Não dá para forçar a mão de Deus, diz Jesus: seu Reinado é um ato espontâneo de misericórdia, voltado não para quem o merece, mas para quem mais precisa dele – os pobres, os famintos, os que choram. Não é à toa que esse Deus recebe de Jesus o apelido de Abbá – nada menos que “papai” em aramaico.

Mais importante ainda, Jesus se apresenta como o mediador para os que querem participar do Reinado de Deus: rejeitar sua mensagem equivale a rejeitar a ordem divina. E, como registram os Evangelhos, a proclamação é voltada exclusiva ou principalmente a judeus como Jesus. Não é à toa que ele escolhe os Doze Apóstolos (provavelmente simbolizando as doze tribos de Israel, espalhadas pelo mundo, que Deus deveria reunir no fim dos tempos) e ordena que eles se dirijam apenas às “ovelhas perdidas da casa de Israel”. Para Jesus, a imagem desse Reino de Deus consumado é a de um banquete – e, paradoxalmente, ele chega a afirmar que alguns de seus compatriotas judeus, os que não o aceitam, poderão ser os barrados no baile, enquanto gente “do Oriente e do Ocidente” – os pagãos – acabam sendo incluídos.

RETRATO MÚLTIPLO

É possível extrair essas linhas gerais da missão de Jesus do material do Novo Testamento, mas é bem mais complicado afirmar se, durante sua vida terrena, Cristo considerava ser Deus encarnado, como diz o dogma cristão, ou mesmo tinha consciência plena de que sua morte na cruz serviria para redimir a humanidade, outra idéia que é central para a cristandade moderna.

O interessante, afirma Chevitarese, é que os textos do Novo Testamento parecem mostrar a convivência de várias visões sobre como e quando os cristãos consideravam que Jesus teria assumido seu status de Cristo, ou seja, de “ungido” (escolhido) e Filho de Deus. “Para Paulo [autor dos textos provavelmente mais antigos do Novo Testamento, datados por volta do ano 50], Jesus é o Cristo porque ressuscitou. O Evangelho de Marcos traz esse papel já para o batismo de Jesus feito por João Batista. Os Evangelhos de Mateus e Lucas recuam isso para o nascimento dele, enquanto João vê Cristo como preexistente ao próprio mundo. São quatro cristologias [visões sobre a natureza de Jesus] diferentes convivendo num espaço de 50, 60 anos.”

Como judeu, seria impensável para Jesus se colocar publicamente como igual a Deus, afirma Luiz Felipe Ribeiro. “Agora, isso não quer dizer que não houvesse uma autocompreensão de Jesus na qual ele se via como mais do que humano, uma autocompreensão messiânica, digamos.” Seria essa uma possível explicação para o misterioso título “Filho do Homem”, aparentemente empregada por Jesus para designar a si mesmo. Esse personagem aparece em vários escritos apocalípticos judaicos, muitos dos quais surgidos pouco antes do nascimento de Cristo. “Mas nem mesmo ali o Filho do Homem é igual a Deus – ele é mais um vice-regente, um segundo em comando”, diz Ribeiro.

Essas incongruências só são conhecidas porque os Evangelhos, apesar da fé religiosa por trás de sua composição, preservam uma trilha de pistas sobre o lado humano de Jesus. Tais pistas fortalecem o chamado critério do constrangimento, uma das principais maneiras de decidir se um fato ou uma fala do Novo Testamento remonta ao Jesus histórico. A idéia é que os evangelistas não inventariam passagens capazes de lançar dúvidas sobre o poder ou onisciência de Jesus.

O caso clássico do critério do constrangimento é o batismo de Cristo por João Batista no rio Jordão, afirma Emilio Voigt, doutor em Novo Testamento e professor da Escola Superior de Teologia de São Leopoldo (RS). “Se o batismo de João é para o arrependimento [dos pecados], porque Jesus precisaria ser batizado? Como Jesus, o Messias, poderia ser batizado por alguém teoricamente inferior a ele?”, diz o pesquisador. Segundo Voigt, a tradição cristã resolve isso por meio do “testemunho” de João – afirmações do profeta de que ele teria vindo apenas para proclamar a chegada de Jesus e de que, na verdade, não seria nem digno de batizá-lo.

Uma série de outros eventos constrangedores aparecem nos Evangelhos: os parentes de Jesus e os moradores de Nazaré o rejeitam como profeta, ele diz que “somente o Pai” conhece a hora da chegada do Reino, teme a aproximação da morte e, pregado na cruz, pergunta por que Deus o abandonou. Para John P. Meier, o registro de tantas situações potencialmente desencorajadoras sobre Jesus revela que os evangelistas estavam seguindo uma tradição histórica estabelecida e que eles não se sentiam totalmente livres para alterá-la a seu bel-prazer. E esse conservadorismo aumenta, de certa forma, a confiabilidade do “esqueleto” básico de fatos apresentado em tais textos.

VERDADEIRO HOMEM, VERDADEIRO DEUS

Levando tudo isso em consideração, a fé cristã pode sair abalada ao confrontar o Jesus histórico? Os especialistas apostam que esse risco é menor do que parece. “A pesquisa histórica ajuda a compreender a atividade de Jesus e a contextualizar a fé. Pode ameaçar alguns dogmas eclesiásticos, mas não a fé propriamente dita”, diz Voigt, que também é pastor da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IELCB).

“Creio que o processo de formação das pessoas de fé cristã deve ajudar a perceber a riqueza que se encontra justamente no processo de interpretar os acontecimentos. Não podemos ler a Bíblia ao pé da letra. Como pessoas de fé, nossos antepassados vivenciaram processos muito criativos de leitura dos acontecimentos, atribuindo-lhes significados que, à primeira vista, não eram perceptíveis nem imagináveis. A Bíblia toda foi construída assim”, pondera o padre Léo Konzen.

“Apesar de ser a personificação do Divino, aqui na Terra Jesus era apenas um homem bruto, pobre, tão comum que dependia de muita oração e da ação do Espírito Santo para realizar seus feitos. Seria muito fácil se Ele morresse na cruz tendo a certeza de que era eterno. Mas era homem e, como homem, não tinha uma memória divina”, diz René Vasconcelos, estudante de teologia da Faesp (Faculdade Evangélica de São Paulo) e membro da denominação evangélica Assembléia de Deus.

Essa, aliás, é uma das pedras fundamentais da fé de quase todas as igrejas cristãs: Jesus é verdadeiro Deus, mas também é verdadeiro homem. A primeira parte da frase não pode ser comprovada ou refutada pela pesquisa histórica, mas a segunda metade dela também é capaz de tornar Jesus relevante para crentes – e até para agnósticos ou ateus – durante muito tempo ainda.



SÉFORIS>>> Metrópole da época: era um centro importante na Galiléia dos tempos de Cristo, mas rebeliões destruíram a cidade 

CAFARNAUM>>> Trabalho e aprendizado: vilarejo pobre habitado principalmente por pescadores, foi o destino escolhido por Jesus logo depois de ter deixado a sua Nazaré natal 

NAZARÉ>>> O berço: segundo o Novo Testamento, José e Maria nasceram ali. Para estudiosos contemporâneos, Jesus também 

RIO JORDÃO>>> Água benta: segundo os estudiosos, os cristãos têm mais é que manter o hábito de realizar batismos ali, onde Jesus passou pelo mesmo ritual 

JERUSALÉM>>> O fim: cidade foi o palco dos últimos dias de vida de Jesus Cristo, da sua crucificação e da primeira comunidade cristã 

BELÉM>>> Pista falsa?: criada em cerca de 3000 a.C., foi ocupada por gregos e, a partir de 65 a.C., por romanos. Estudos sugerem que Jesus não teria nascido nessa cidade 
O homem, o mito 
Décadas de investigação revelam detalhes surpreendentes sobre a história de Cristo, como seu verdadeiro local de nascimento, sua relação com Maria Madalena e a veracidade de seus milagres 

1>>>Nascimento: Cristo nasceu antes de Cristo. Os próprios Evangelhos indicam uma vinda ao mundo no fim do reinado de Heródes, o Grande, por volta do ano 5 a.C. Nosso calendário está, portanto, alguns anos atrasados, por um erro de cálculo medieval 


2>>>Pais: há consenso de que são Maria e José, o carpinteiro (e/ou construtor: a palavra grega comporta os dois sentidos). Jesus teria herdado a profissão do pai 


3>>>Terra natal: Lucas e Mateus não se entendem sobre como a família de Cristo teria chegado a Nazaré, na Galiléia (norte de Israel). É mais provável que a história do nascimento em Belém tenha sido criada mais tarde, para associar Jesus às profecias sobre o Messias 


4>>>Família: o dogma católico sobre a eterna virgindade de Maria levou teólogos a interpretar os "irmãos" de Jesus citados nos Evangelhos como seus primos, mas é mais provável, pelo sentido do texto grego, que Maria e José tenham mesmo tido outros filhos 


5>>>Estado civil: solteiro e sem filhos. Essa é a situação marital mais provável de Jesus, a julgar pelas muitas referências à sua família, mas nenhuma a mulher e filhos. Tampouco há provas confiáveis de que Maria Madalena fosse algo mais que sua discípula 


6>>>Batismo: Jesus certamente foi batizado por João Batista no rio Jordão: os evangelistas jamais criariam uma história embaraçosa para seu mestre, uma vez que o batismo de João servia para a remissão dos pecados - algo supostamente supérfluo para o Filho de Deus 


7>>>Mensagem: o centro da pregação de Jesus era o "Reino de Deus" (para ser mais preciso, o "Reinado de Deus"): a idéia de que Deus estava prestes a iniciar uma nova fase na história do povo de Israel e da humanidade e de que o próprio Jesus era o principal arauto 


8>>>Milagres: até fontes não-cristãs falam de Cristo como "responsável por atos extraordinários", entre os quais a cura de doentes. Para Jesus, tratava-se de mais um sinal da proximidade do Reinado de Deus 


9>>>Exorcismos: é difícil separar as curas operadas por Jesus dos exorcismos que praticava. Nem seus opositores judeus duvidavam desses atos. Para Cristo, sua vitória contra forças demoníacas mostrava que Deus estava agindo através dele 


10>>>Seguidores: Jesus aparentemente chamava indivíduos específicos para segui-lo, eventualmente exigindo que eles abandonassem seu emprego, sua cidade e até sua família para acompanhá-lo. Doze desses escolhidos formaram um círculo interno de seguidores, provavelmente representando as doze tribos de Israel, que seriam reconstituídas por Deus 


11>>>Traição: um dos doze apóstolos, Judas Iscariotes (o significado do sobrenome é nebuloso; podia se referir a "homem de Keriot", cidade da Judéia), teria entregado Jesus. Os evangelistas provavelmente não inventariam isso: se Jesus fosse onisciente, por que escolheria um apóstolo que iria traí-lo? 


12>>>Crucificação: diversas fontes não-cristãs concordam com os Evangelhos. Cristo morreu crucificado a mando de Pôncio Pilatos, que governou a Judéia do ano 26 ao 36. A data mais provável para a execução de Jesus é o ano 30 


Apócrifos: muito barulho por nada 
Para especialistas, esses escritos perdem importância quando se constata que eles tiveram como base os Evangelhos canônicos e seguiram o gnosticismo 

O menino Jesus usa seus superpoderes para matar um amiguinho e dar vida a passarinhos de barro; uma parteira anuncia que, após o parto de Cristo, a virgindade de Maria foi milagrosamente restaurada; Judas é um bom sujeito, que só traiu seu mestre quando o próprio pediu; Maria Madalena e Jesus vivem aos beijos, e a ex-endemoninhada é a discípula favorita do Messias. Bem-vindo ao maravilhoso mundo dos Evangelhos apócrifos, textos sobre a vida de Jesus que não foram incluídos no cânon, o conjunto de livros oficialmente aprovados pelo cristianismo. 

Há pesquisadores que vasculham esses livros, muitos dos quais em estado fragmentário, em busca de informações valiosas que não teriam sido preservadas (ou teriam sido deliberadamente varridas para debaixo do tapete) pelos evangelistas oficiais. O esforço vale a pena? O mais provável é que não. A opinião é de John P. Meier, autor da aclamada série de livros "Um Judeu Marginal". O argumento de Meier é simples: é praticamente impossível demonstrar que os evangelhos apócrifos mais populares entre os historiadores, como o de Tomás e o de Pedro, não tenham, na verdade, usado como base os Evagelhos canônicos, os bons e velhos Mateus, Marcos, Lucas e João. 
Estruturas literárias básicas, como a ordem dos ditos de Jesus, parecem seguir de perto os textos canônicos. Além disso, a datação dos apócrifos aponta para uma composição décadas ou até séculos depois dos Evangelhos oficiais. E há alguns detalhes teológicos suspeitos nas narrativas apócrifas: muitos deles seguem o chamado gnosticismo, uma vertente esotérica do cristianismo primitivo que considerava o mundo material uma esfera corrompida e naturalmente ruim da existência e pregava o acesso a um conhecimento secreto para se libertar dele. A importância do apóstolo Tomé ou de Maria Madalena nos textos gnósticos provavelmente não tem a ver com o papel histórico desses personagens, mas com o uso deles como contraponto aos sucessores de apóstolos como Pedro e Paulo, principais líderes das comunidades cristãs após a morte de Jesus. 

Fonte: G1

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