Para iniciar a seção de Ciência, apresentamos aquele que é um dos mais poderosos estudos onde se pode constatar que religião e crença em deus não é necessariamente um fator positivo na sociedade.
Gregory S. Paul de Baltimore, MD, apresentou um estudo com o título: Correlações em variáveis quantificáveis de saúde pública em democracias prosperas com religiosidade popular e secularismo (Cross-National Correlations of Quantifiable Societal Health with Popular Religiosity and Secularism in the Prosperous Democracies), que foi publicado “Jornal da Religião e Sociedade”, volume 7 em 2005 (ver aqui).
No artigo podemos ler que teístas gostam de afirmar que o “criador” foi instrumental para o desenvolvimento de comportamentos morais e éticos, assim como as fundações necessárias para uma sociedade saudável e coesa. Evidência que a crença num “criador” é benéfica para sociedades é largamente baseada em assumpções empíricas, e estudos com manipulações experimentais e/ou erros metodológicos (como por exemplo, selecção de uma amostra de conveniência).
Os dados recolhidos para este estudo foram resultado de aplicação de sondagens em 38 nações pela International Society Survey Program e da Gallup em temas de Ciência Social. A última sondagem contabilizou 23.000 pessoas em democracias “desenvolvidas”; Portugal é considerado como um exemplo de uma democracia Europeia de “segundo mundo”. Outros países incluídos foram: Alemanha, Reino Unido, Holanda, Estados Unidos, Japão, países Escandinavos, entre outros. As variáveis independentes incluíram: literacia bíblica, frequência de preces, e ida regular a igrejas.
Igualmente para avaliar actividades, fervor e conservadorismo religioso, crença absoluta em deus foi questionada. Variáveis independentes foram consideradas: homicídio, suicídio juvenil, gravidez precoce, doenças sexualmente transmissíveis (DST) e taxa de interrupção voluntária da gravidez.
Análises de regressão múltipla foram aplicadas devido à variabilidade nos graus de correlações e devido aos factores de função social serem (naturalmente) de grande complexidade. Correlações dos dados foram efectuadas inicialmente para medir interacções entre variáveis.
Os resultados encontrados são de grande importância e merecem uma análise detalhada.
Democracias seculares têm visto a taxa de homicídios diminuir progressivamente até atingir os valores mais reduzidos de sempre. Por outro lado, os EU, onde os níveis de religiosidade são muito elevados, são a única democracia próspera que tem altos valores de homicídio. Portugal, apresentado neste estudo como uma sociedade teística, tem valores de homicídios muito acima de outras democracias seculares.
A correlação positiva entre factores religiosos e mortalidade juvenil é declarada, principalmente entre aqueles que tem valores mais elevados de crença e prece.
Relativamente a DST’s, taxas de gonorreia adolescente nos EU são seiscentas vezes mais elevadas que em países menos teístas, e com sociedades seculares. Igualmente os EU mostram as taxas mais elevadas de infecções de sífilis. Duas das mais curáveis DTS’s foram quase eliminadas em países da Escandinávia, que se caracteriza por ser fortemente secular.
Taxas de aborto adolescente mostram correlações positivas com crença e “entrega ao criador”, e correlação negativa com ateísmo. Novamente, o pais que mais sofre de aborto em adolescentes é os US, novamente, o país no estudo com maior número de crentes. Um ponto interessante de analisar foi a afirmação de João Paulo II que a cultura secular agrava a taxa de abortos, enquanto os dados mostram exactamente o contrário.
Nas conclusões, o autor refere que, ao contrário do que seria desejado por setores religiosos das sociedades mais desenvolvidas (nomeadamente nos EUA), os dados não mostram que países mais religiosos, com uma maior crença num “criador”, têm melhores taxas de saúde pública. As populações de democracias seculares podem claramente governar-se e manter coesão social sem necessidade de recorrer a “sistemas de fé”. De fato, os dados deste estudo demonstraram que democracias seculares, pela primeira vez na história, quase atingem um ponto de “cultura de vida”, com baixos valores de crime letal, diminuição de aborto, mortalidade juvenil e doenças sexualmente transmissíveis.
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