domingo, 13 de maio de 2012

Orgulho de ser ateu. Movimento cresce na internet e ganha mais adeptos


Foto: Ricardo Medeiros / GZ
Wagner criou um blog, o "Bar do ateu",
 para combater o preconceito contra
quem não acredita em Deus
Católico, espírita, presbiteriano e ateu. Em quatro décadas, Wagner Kirmse Caldas, 42 anos, manteve apenas uma única característica inalterada: a inquietação. E isso começou cedo, quando perguntou sobre os dinossauros à professora de catequese, passando pelos questionamentos aos livros de Chico Xavier e pelos estudos teológicos – no desejo de virar pastor. Em todos os momentos, ele sempre buscou respostas. Até que aos 33 anos a inquietude era tanta que superou sua fé, e, aos 38, mostrou que ele não acreditava mais em Deus.

"Contei a amigos e à família. Mas foi um choque. Comecei a descobrir que a sociedade é preconceituosa com os ateus. E isso foi uma motivação para criar o blog (Bar do Ateu)", afirma. "Queria mostrar que ateus são cidadãos como qualquer outro. Temos moral e ética e seguimos as regras da sociedade".

Defesa

Para se defender, eles passaram a fazer barulho. A mobilização coletiva na internet, principalmente em mídias e redes sociais, como blogs e páginas do Facebook, só faz crescer. É uma busca pelo orgulho de ser ateu, mesmo que ainda não se saiba o número exato de quantos existem no Brasil.

A movimentação é uma necessidade, defende o presidente da Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos (Atea), Daniel Sottomaior. "O ateu é a última minoria da sociedade. Já faz parte do saber comum: se a sociedade vai mal, em valores e violência, a solução é apelar para a religião. O preconceito é tanto que, no dicionário, ser ateu é ser ímpio: uma pessoa sem fé, e maldosa", diz ele.

Na página da Atea – a associação foi criada há quatro anos – já são mais de 125 mil seguidores. O grupo tem cerca de 5 mil associados. Para o presidente da entidade, esse é um dos caminhos que fará os ateus assumirem sem medo a sua ideologia.

Apesar da mobilização, a onda de orgulho ateu não levanta bandeiras em busca da conversão. "Os espaços servem mais para tirar dúvidas e mostrar aos ateus, que ainda se sentem isolados, que eles não são os únicos no mundo", defende Wagner Caldas.

O seu blog serve como uma terapia coletiva. "Queremos aproximar os ateus e diminuir o grau de estranheza que a sociedade tem conosco. Ser ateu não é uma escolha, é um processo de conclusões pessoais que indicam ser bem provável não existir deuses nem divindades. É um caminho de consciência", diz o blogueiro.





Barreira

Informe-se

Blog:
 bardoateu.blogspot.com.br
Atea: www.atea.org.br
Ateus.net: http://ateus.net
Portal: www.portalateu.com
Grupo: livrespensadores.org/
Ideia: projeto.livrespensadores.org

O processo não é simples. O grupo Atea recebe diariamente histórias de pessoas que passaram por situações constrangedoras por serem ateus. "Recentemente denunciamos escolas que obrigam os alunos a rezarem nos intervalos das aulas. Tem, ainda, o caso de uma pessoa que, no primeiro dia de trabalho assumiu ser ateu e, no segundo dia, foi demitida", diz Daniel.

Há até casos de juízes que incluíram na decisão de soltura do preso uma visita obrigatória à igreja, sugerindo horário e local do culto. "Isso é o máximo do absurdo. Não se respeita nem a escolha religiosa de um detento, quanto mais a liberdade de não se ter uma religião", lamenta.

Apesar do preconceito, eles garantem que nada supera a sensação de ser quem você realmente é. "O melhor de ser ateu é poder ser um livre pensador, sem restrições dogmáticas e de consciência tranquila. É ter o senso crítico sobre tudo, e de ser feliz da sua forma", diz Wagner Caldas.
Análise

"Há mais estranhamento"

A organização e a mobilização dos ateus para serem reconhecidos perante a sociedade constitui um movimento natural numa sociedade plural e declaradamente democrática. Também é natural que declarar-se ateu em uma sociedade caracterizada historicamente como cristã cause estranheza por quem não compartilha tal convicção. A tolerância e a compreensão mútuas, de ateus e religiosos, são fundamentais para a convivência pacífica. No entanto, não concordo com o discurso da vitimização de quaisquer grupos que se consideram excluídos na sociedade. O movimento ou grupo deve se firmar pela solidez e relevância de sua mensagem, não por se colocar como vítima de um preconceito social. Para se consolidar, o movimento dos ateus deve mostrar as razões de sua significância social, o que o Cristianismo faz há mais de 2 mil anos. No Brasil, percebo que há bem mais estranhamento do que preconceito em relação à quem se declara ateu, dada a tradição cultural e cristã, do país.

Vitor Nunes Rosa, teólogo, professor da Faesa e especialista em religião de A GAZETA




Maurílio Mendonça

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Páginas