domingo, 12 de maio de 2013

Igrejas abrem as portas para quem casa novamente

Igrejas abrem as portas para quem casa novamente 
Pastoral Familiar Católica tem setor para quem se casa após divórcio; na Igreja Batista, é possível subir de novo ao altar, dependendo do caso segunda união mudanças para acolher casais

Amar e respeitar até que a morte os separe. É o que prometem os noivos, apaixonados, na hora do “sim” no altar. Mas, e quando o casamento não dá certo? Há aqueles que decidem acreditar novamente na felicidade a dois e casam-se novamente. No passado, esses fiéis acabavam excluídos dentro das igrejas, mas a situação mudou de alguns anos para cá. 

O número de divorciados que vivem com suas novas famílias não para de crescer no país. Os “recasados” já representam 20,3% do total das uniões formais, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Atentas às mudanças de perfil de seus membros, algumas igrejas não só os acolhem como também investem nos que passaram por um divórcio. 

Entre os católicos, crescem os encontros e trabalhos realizados especialmente para os casais no segundo casamento, que, apesar de não poderem comungar – receber a Eucaristia –, são convidados a participar de várias atividades e lideram movimentos. É o caso da coordenadora do Setor de Casos Especiais da Pastoral Familiar da Arquidiocese de Vitória, Angela Cassemiro Del Rey. Ela vive uma segunda união há 14 anos. Angela explica que o pontapé inicial para essa abertura dentro da Igreja foi a carta apostólica do papa João Paulo II, de 1981. Nela, o papa pedia uma Igreja mais misericordiosa com os “divorciados que contraem nova união”. 

Recente
Apesar de o fato ter acontecido há mais de 30 anos, as mudanças dentro da instituição começaram a ocorrer na última década. “Muitos católicos desconhecem isso. Eles precisam saber que são bem-vindos e amados, que podem participar de várias atividades pastorais e de movimentos. Os que não podem comungar podem fazer a comunhão espiritual durante o momento da comunhão”, explica Angela Del Rey. 


Na prática, casais separados continuam não podendo casar de novo na Igreja Católica nem receber outros sacramentos, como a Eucaristia. Também não podem exercer as funções de diáconos ou ministros da Eucaristia. 


Mas isso não parece incomodar a maioria dos “recasados”. A assessora técnica Ana Paula Cardoso, 37, e o gerente Eder Dallapícola Rocha, 44, estão em uma segunda união há 11 anos e são referência na igreja do bairro onde moram, em Alecrim, Vila Velha. 

“Conduzimos encontros, conscientizando e evangelizando os casais. Sabemos que temos limitações, mas somos muito ativos na Igreja. Quando fui convidada pelo pároco para liderar esse movimento, há oito anos, me senti insegura, mas fui totalmente acolhida”, conta Ana Paula. Ela e o marido ainda fazem parte do conselho e das equipes de canto e de construção da Igreja São João Batista. 

Nas igrejas evangélicas, os divorciados são considerados membros como os demais e podem, dependendo de cada caso, até subir ao altar pela segunda vez. Isso é o que acontece na Primeira Igreja Batista de Vitória. 

“Avaliamos tudo de forma criteriosa, levando em conta a situação do casal e as razões que levaram às respectivas separações”, afirma o pastor Oliveira de Araújo. Quando ocorre o divórcio, os fiéis ficam afastados das lideranças de movimentos na igreja por um certo período, mas podem continuar a frequentar os cultos e recebem orientações pastorais. 

Judeus e espíritas não se opõem ao divórcio e celebram o ritual do segundo casamento sem objeções. Já na umbanda, o casamento só pode ser realizado após o casal legalizar a união na esfera civil.

80 católicos tiveram matrimônio anulado neste ano no Estado

Quem é católico, mas deseja casar-se pela segunda vez com as bênçãos de um padre, pode pedir a nulidade do primeiro matrimônio. Só neste ano, o Tribunal Eclesiástico da Igreja Católica no Estado considerou 40 casamentos nulos.
Quem pede a nulidade precisa apresentar três testemunhas para comprovar os motivos. Segundo o Direito Canônico, há 19 motivos que podem tornar nulo um casamento. Entre eles estão doença grave, homossexualidade não revelada, infidelidade antes do matrimônio e casar-se por pressão externa (gravidez).

“O primeiro passo é uma conversa para verificar se o motivo é válido. Na semana passada, os juízes aceitaram 17 pedidos e rejeitaram um por falta de provas”, diz o presidente do Tribunal, padre Tarcísio Caliman.

Católicos

Ordem não é de exclusão, mas de acolhimento
Angela e Paulo Del Rey
Setor de Casos Especiais da Past. Familiar da Arquid. de Vitória
Muitos casais desconhecem a carta apostólica  de 1981 do papa João Paulo II. Nela, o pontífice pede para que a Igreja acolha os casais em segunda união. A Igreja não tem diretriz de exclusão, pelo contrário. A ordem é de acolhimento, formação e educação. Queremos que os casais se sintam pertencentes à Igreja, que possam viver  seu batismo. As pessoas divorciadas precisam conhecer seus direitos e deveres. Para a Igreja, eles romperam o primeiro casamento com Deus, então, é como se estivessem em pecado. Mesmo que se confessem, vão continuar nessa situação  e não podem ser absolvidos. Por isso, não podem comungar. Isso está em Mateus 19, versículos de 3 ao 9: ‘Todo aquele que deixar sua esposa ou esposo e for ter com outra pessoa cometerá adultério”. Também não é permitido casar de novo na Igreja. Mas os fiéis em segunda união podem participar da comunhão da Palavra, da comunhão espiritual e de outras várias atividades. Quando são informados nos encontros sobre as possibilidades de participação, além do fato de que a Igreja os ama, os casais passam a servir com muito amor e dedicação. Eles são um presente para a Igreja e são muito bem-vindos. Não existe nada mais importante do que o amor de Deus por nós. É necessário buscá-lo e respeitá-lo.

Protestantes
Casamentos não devem virar pequenas aventuras
Pastor Oliveira de Araújo e a esposa, Alzira 
1ª Igreja Batista de Vitória

Quando casais querem celebrar uma segunda união na igreja, nós avaliamos cada situação separadamente. Cada caso merece uma análise isolada. Segundo a Bíblia, um dos motivos que poderiam justificar o divórcio é a infidelidade conjugal. Na própria Bíblia há respaldo para separação e, eventualmente, para novo casamento. O que não aceitamos são casamentos transformados em pequenas aventuras, pessoas que já se casaram várias vezes por poucos meses. Isso é banalização do casamento. A separação pode ocorrer em circunstâncias especiais, mas não ser algo rotineiro. Não barganhamos com relação a isso. Não abrimos mão dos nossos valores só porque o fiel pode se afastar da igreja, mas sempre acolhemos e oferecemos orientação profunda. Há situações em que as pessoas se casam sem ter afinidade e sem qualquer maturidade para fazer dar certo um casamento. Dessa forma, não é possível resistir às crises. Quem se divorcia não exerce nenhuma função na igreja, mas pode frequentar os cultos. Isso é para ajudar a pessoa a refletir e a reconstruir a sua vida. Trabalhamos muito também para evitar as separações. Tratamos a situação com muito carinho, tentando manter o casal unido. Alguns conseguem o perdão da parte ofendida e se reconciliam.

Judeus 

Celebração autorizada
Alfredo Silbermann
Comunidade Israelita Kehilat
A celebração de um segundo casamento pode ser realizada, sim, no judaísmo. O casal unido num primeiro casamento é “bashert” (predestinados um para o outro). São pessoas que compartilham uma conexão de almas desde que nasceram. Embora suas almas possam combinar perfeitamente, podem ter personalidades conflitantes, outras prioridades e ambições. Por que então eles se casaram? Porque estavam destinados um ao outro. Segundos casamentos apresentam uma oportunidade de escolher uma pessoa compatível com seu estilo de vida e caráter. Segundo o Talmud (livro sagrado judaico), a qualidade do segundo cônjuge de uma pessoa depende de seus atos (ao contrário dos primeiros, que são determinados antes do nascimento). Assim, aumentar o estudo de Torá e o cumprimento das mitsvot (preceitos) amplia bastante as chances de encontrar um indivíduo qualificado ao lado do qual encontrará felicidade e paz.

Espíritas
Não existe alma gêmea
Maria Lúcia Dias Farias
Federação Espírita do Estado
No Espiritismo não proibimos nada, apenas orientamos. Não há preconceitos com relação às pessoas que se separam. A orientação é para que todos se esforcem para manter a união, sempre cultivando a tolerância e o respeito mútuo. O divórcio é uma escolha que fazemos, não está relacionado com o plano espiritual, não existem almas gêmeas. O Evangelho segundo o Espiritismo traz no capítulo 22 exatamente isso: “O divórcio é uma lei humana, cuja finalidade é separar legalmente o que já estava separado de fato. Não é contrário à lei de Deus, pois só reforma o que os homens fizeram, e só tem aplicação nos casos em que a lei divina não foi considerada”. Deus criou os homens dando inteligência e livre arbítrio. Nós devemos procurar fazer boas escolhas e tentar manter os laços de união, mas quando a pessoa só encontra sofrimento tem todo o direito de separar-se e casar-se novamente.

Umbandistas 
Nova chance
Luiz Augusto Labuto
Fraternidade Tabajara

Cada um de nós já teve várias vidas, várias encarnações e, por isso, várias oportunidades ao longo da eternidade. Há situações em que uma união não dá certo simplesmente, e a pessoa pode tentar novamente. Não defendemos o sofrimento eterno nem acreditamos nos conceitos de céu e inferno. O que existe é o conceito de vidas em vários planos diferentes. Só existe um porém: apenas celebramos o ritual religioso de um segundo casamento na Umbanda mediante apresentação da certidão de casamento civil. Seguimos o que a lei material permite. O divórcio e a segunda união são reflexos das mudanças que acontecem na sociedade atualmente, e não podemos fechar os olhos para isso. Quando existe a proibição, as pessoas acabam se afastando, e esse não é o nosso objetivo. Não existe preconceito nem discriminação quando alguém se separa e resolve se casar novamente. 

A GAZETA

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Páginas